Alterações da resposta imune a infecção experimental pelo trypanosoma cruzi, induzidos pela infecção concomitante com um coronavirus murino

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1996

RESUMO

A manutenção de formas sanguícolas do Trypanosoma cruzi nos laboratórios que desenvolvem pesquisas com o parasita é realizada através de repiques de sangue do hospedeiro previamente infectado. Entretanto, até recentemente estes animais eram criados de modo convencional, ou seja, em condições favoráveis à infecção com diferentes patógenos naturais, inclusive vírus de difícil detecção e controle. Com a implantação do CEMIB-UNICAMP, capaz de fornecer animais controlados do ponto de vista genético e sanitário, resolvemos investigar se algum destes patógenos murinos, estaria sendo transmitido junto com o parasita e se algumas características da Doença de Chagas experimental estariam sendo alteradas por este(s) contaminante(s). MAP testes realizados com soro de animais infectados com Trypanosoma cruzi indicaram a presença de coronavírus em estoques do parasita mantidos exclusivamente por passagem de animal para animal. Estoques previamente mantidos em meios de cultura de células ou em meios axênicos não indicaram a presença de contaminantes. Os resultados obtidos mostraram que camundongos infectados com o estoque contaminado apresentavam níveis de parasitemia e taxa de mortalidade mais elevados que os animais infectados os estoques não contaminados. Além disso, o plasma filtrado de animais infectados com o estoque contaminado foi capaz de elevar os níveis de parasitemia e de mortalidade de animais infectados com os estoques não contaminados. O fator, presente no plasma dos animais infectados com o estoque contaminado era sem dúvida um vírus, denominado vírus X, uma vez que podia ser seriadamente transferido de animal para animal, era completamente inativado quando aquecido a 56° C por 45 minutos e tinha sua virulência aumentada provocando a morte de animais de quatro semanas de idade após a transferência seriada. Anticorpos anti-X, preparados com a décima passagem seriada do vírus, ou anticorpos anti-MHV3 (Murine Virus Hepatitis-3) foram capazes de proteger os animais jovens da morte, quando estes eram desafiados com o vírus X, e de diminuir a parasitemia quando os animais eram infectados com o estoque contaminado. Estes dados indicavam que cepas de Trypanosoma cruzi, mantidas apenas por transferência de animal para animal, poderiam estar contaminadas com um vírus capaz de aumentar a patogenicidade do parasita ou de alterar a resposta imune do hospedeiro. Animais infectados com o estoque contaminado ou com o vírus isolado, apresentaram uma marcada linfopenia, no segundo dia após a infecção, enquanto que nenhuma alteração foi observada nos animais infectados com os outros estoques do parasita. Experimentos de neutralização, utilizando anticorpos anti-X, mostraram que esta linfopenia podia ser completamente abolida. Alterações do peso e da celularidade de diferentes órgãos linfóides também foram observadas, sendo evidenciada perda da arquitetura tímica e alterações no processo de maturação de células da medula óssea quando os animais eram infectados com o estoque de parasitas contaminado ou com o vírus isolado. As populações de células, apresentando marcadores específicos para linfócitos B e T, mostraram alterações em diferentes tecidos linfóides. Observou-se uma profunda queda na porcentagem de células T e B, quando os animais eram infectados com o vírus isolado ou com o estoque do parasita contendo este contaminante. Estes resultados confirmam e estendem, também para a Doença de Chagas experimental, os dados obtidos na literatura de que este vírus é capaz de alterar as respostas do hospedeiro, através da imunomodulação, e indicam que alguns dados obtidos com a infecção experimental pelo Trypanosoma cruzi devem ser interpretados com cautela

ASSUNTO(S)

doença de tripanossomose chagas

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