Alcoolismo, doença e pessoa: uma etnografia da associação de ex-bebedores Alcoólicos Anônimos.
AUTOR(ES)
Edemilson Antunes de Campos
DATA DE PUBLICAÇÃO
2005
RESUMO
O objetivo deste trabalho é o de apresentar uma reflexão sobre o modelo terapêutico construído pela irmandade de Alcoólicos Anônimos (A.A.) para dar conta da chamada doença do alcoolismo, relacionando-o à fabricação de uma noção de pessoa em seu interior, notadamente a partir da edificação da identidade de doente alcoólico em recuperação. A partir dos dados da pesquisa etnográfica realizada no grupo Sapopemba de A.A., localizado na periferia da cidade de São Paulo, busca-se analisar o problema do alcoolismo a partir de uma perspectiva êmica, isto é, tal como ele é pensado e gerido por aqueles que se reconhecem como doentes alcoólicos. Com isso, pretende-se articular as representações construídas sobre o álcool e o alcoolismo com a fabricação de uma noção de pessoa alcoólica, de maneira a estabelecer contrastes com o campo ideológico do individualismo moderno. Ao longo deste trabalho, demonstra-se que, para os membros de A.A., a doença alcoólica é entendida como uma doença da família, ou seja, uma doença que atinge o indivíduo, mas também afeta a todos aqueles que estão a seu redor, sobretudo, seus familiares. Com efeito, evidenciam-se as condições de possibilidade de contágio em torno do alcoolismo, condições essas diretamente ligadas às representações construídas sobre o alcoolismo, entendido como uma doença física e moral, e a seus efeitos sobre o conjunto de relações sociais familiares e profissionais nas quais o exbebedor está envolvido. Em suas atividades e reuniões, os membros da irmandade se reconhecem como doentes alcoólicos em recuperação, isto é, como portadores de uma doença incurável; de um mal que está alojado dentro de cada um e com o qual deverão aprender a conviver. Esse processo corresponde, fundamentalmente, à instauração de um peculiar regime de alteridade, baseado na fabricação de um corpo e de um espírito doentes, no qual a doença alcoólica é apreendida como um outro que cada dependente traz dentro de si mesmo; condição essa que deve ser compartilhada com os demais membros do grupo, possibilitando, assim, a manutenção da sobriedade e o resgate dos laços sociais, perdidos no tempo do alcoolismo ativo, notadamente, na família e no trabalho.
ASSUNTO(S)
antropologia alcoholics anonymous antropologia alcoholism antropologia da saúde disease personhood alcoolismo - aspecto sócio-culturais
ACESSO AO ARTIGO
http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=883Documentos Relacionados
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