Agravos à saúde mental dos homens envolvidos em situações de violência / Mental suffering among men involved in violence situations

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

27/06/2012

RESUMO

Há poucos estudos sobre saúde mental masculina, em especial quando a temática é a violência. Os trabalhos sobre homens e violência sofrida destacam eventos fatais, oferecendo pouca visibilidade à violência não fatal. No presente estudo, analisou-se a associação entre esses dois eventos, cuja relação é pouco explorada. Metodologicamente, realizou-se um estudo transversal, com 477 usuários masculinos de serviços de atenção primária, de 18 a 60 anos. A seleção amostral foi do tipo consecutivo, por ordem de chegada em dois serviços de atenção primária na cidade de São Paulo. Foram coletadas características sócio-demográficas, de saúde e relatos de experiência de violência sofrida ao longo da vida (adulta, na adolescência e/ou na infância) e de violência testemunhada na infância. Também foram coletadas informações sobre uso do serviço de saúde mental e/ou queixas/diagnósticos psicológicos em consulta da clínica médica, por meio de leitura de prontuários médicos, para categorização da variável dependente sofrimento mental. As variáveis foram descritas por frequências e proporções, apresentando 29,4% (140) de homens com sofrimento mental. Dentre esses homens, 45,7% sofreram violência física e/ou sexual mais de uma vez na vida. Em relação à violência sofrida na infância e/ou adolescência, metade dos homens com sofrimento mental havia tido algum episódio de violência psicológica, física e/ou sexual antes dos 18 anos. E 61,4% dos homens haviam perpetrado algum tipo de violência além de sofrê-la durante a vida. Por meio de análise multivariada desenvolveram-se três modelos de Poisson com variância robusta do tipo confirmatório, ajustados pelas variáveis sócio-demográficas, testemunho de violência na infância e uso de substância psicoativa. No modelo I, sofrimento mental foi significativamente associado apenas com sofrer violência física e/ou sexual recorrente. (RP:1,75; IC95%:1,13-2,72), já que a violência em episódio único perdeu a significância após a inclusão da variável de uso de substância psicoativa. No modelo II, o mesmo desfecho esteve associado a sofrer violência antes dos 18 anos, sendo que sofrer violência na infância e/ou adolescência aumenta o risco de sofrimento mental na vida adulta em 1,93 vezes (IC95% 1,25-3,00), e sofrer qualquer tipo de violência apenas na vida adulta não se mostrou associado a sofrimento mental. No modelo III, a exposição a sofrer e perpetrar violência foi associado a sofrimento mental, enquanto apenas sofrer ou apenas perpetrar não mostraram significância estatística. Em todos os modelos, o uso de substância psicoativa representou uma importante variável de ajuste. Conclui-se que há importante relação entre sofrimento mental e sofrer violência, e a ocorrência desses episódios nos primeiros anos de vida podem provocar agravos à saúde mental na vida adulta, chegando a ter associação com 61,4% desses agravos. Tal relação, já salientada nos estudos com mulheres, é relevante também para a saúde dos homens, chamando a atenção para a igual necessidade da identificação nos serviços de saúde de situações de violência experimentadas pela população masculina, bem como maior atenção aos agravos em saúde mental nessa população

ASSUNTO(S)

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