Abordagem psicológica das arritmias cardíacas: uma análise das emoções relatadas em exame de Holter

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

De modo geral, estudos destinados a detectar fatores de risco associados às doenças do coração dão ênfase às emoções negativas. Conseqüentemente, não esclarecem quanto aos efeitos cardíacos de situações em que as pessoas vivenciam alegria, satisfação ou segurança. Considerando, então, a necessidade de ampliar o conhecimento sobre tais aspectos psicológicos, realizou-se uma investigação com o objetivo de identificar e associar emoções e episódios de vida diária que ocorrem simultaneamente a arritmias cardíacas. A pesquisa foi conduzida em uma clínica do Distrito Federal e teve a participação de 13 homens (média de idade = 58,5) e 17 mulheres (média de idade = 57,8), que procuraram o serviço para a realização do exame de Holter. Inicialmente, de acordo com a rotina de atendimento prevista, reuniram-se os dados do Relatório Tabular, que indica o total de arritmias ocorridas a cada intervalo de hora, e as informações lançadas no Relatório Diário pelo participante, acrescidas do registro das emoções vivenciadas ao longo das 24 horas. Em seguida, por ocasião da retirada do aparelho, realizaram-se entrevistas semi-estruturadas, as quais foram gravadas em áudio, transcritas e submetidas ao software ALCESTE. O conteúdo dos Relatórios Diários foi emparelhado, hora a hora, com os registros do Relatório Tabular, adotandose como critério contabilizar apenas um registro, a cada intervalo de uma hora para cada paciente, nos intervalos em que houvesse tanto relato de atividade quanto de estado emocional, durante o período de vigília. Esses dados foram analisados por método de estatística descritiva, optando-se pela média aritmética dos registros. Os resultados obtidos mostraram diferenças acentuadas entre os gêneros. As mulheres apresentaram mais arritmias que os homens. Todavia, a distribuição ao longo das 24 horas foi mais irregular entre os participantes do sexo masculino. As atividades registradas foram organizadas em três categorias: mentais, físicas e no trânsito. Na primeira, as arritmias distribuíram-se de forma homogênea nos dois gêneros. Já na categoria atividades físicas, bem como nas situações relacionadas ao trânsito verificaram-se resultados opostos em homens e mulheres. Em razão do tamanho da amostra, procedeu-se à análise individual dos casos, elaborando-se um sistema com três categorias principais (emoções positivas, negativas e neutras) subdivididas em dez subcategorias. Relatos de alegria apresentaram-se pouco simultâneos a arritmias em ambos os sexos. Entre as mulheres, as arritmias ventriculares ocorreram mais simultaneamente à preocupação do que à ansiedade e não se mostraram relacionadas à raiva. Entre os homens, ocorreu o inverso. A tristeza não foi associada a arritmias ventriculares por nenhum dos gêneros, mas foi relatada mais freqüentemente durante as arritmias supraventriculares em mulheres. A ansiedade foi mais vinculada aos dois tipos de arritmias pelos homens. A análise das entrevistas por meio do ALCESTE discriminou três classes (situações relacionais, vivências pessoais e comportamentos) subdivididas em cinco categorias. Também foi possível verificar que os participantes não atribuem a doença às relações interpessoais, mas relacionam seu estado de saúde a comportamentos e emoções. Ao final da dissertação, discutem-se as limitações do estudo desenvolvido e sugerem-se mais pesquisas no campo da Psicologia Aplicada à Cardiologia, voltadas especificamente para essa temática.

ASSUNTO(S)

holter psicologia gênero emotions psicologia aplicada à cardiologia psychology applied to cardiology emoções arritmias cardíacas cardiac arrhythmias holter gender

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