A voz na mise en scène: o filme Cidade de Deus sob a escuta fonoaudiológica / Voice in mise en scène

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Introdução: Os elementos da linguagem cinematográfica são criativamente colocados em contato uns com os outros e dessa relação surgem novos significados. Todos esses elementos formam a mise en scène. Objetivo: Ao partir da investigação sobre a produção do filme Cidade de Deus, o objetivo deste trabalho é analisar como a voz - loudness, velocidade, entoação, prolongamento e pausa - se relaciona com os demais elementos da linguagem cinematográfica - interpretação, cenário, iluminação, figurino, cores, velocidade e movimentos da câmera, montagem, trilha musical e outros sons - em três trechos do filme e verificar os efeitos dessa relação na mise en scène. Método: A primeira parte traz um LEVANTAMENTO DO CONTEXTO do filme Cidade de Deus, que se refere à investigação dos momentos de pré-produção, produção e pós-produção, incluindo entrevista com as fonoaudiólogas que trabalharam no filme. A segunda parte traz a ANÁLISE DE TRECHOS do filme em que os elementos da dimensão visual analisados foram: câmera (movimentos, velocidade, planos), fotografia (cenário, cores, iluminação), figurino e montagem, e os elementos da dimensão auditiva foram: voz (loudness, velocidade, entoação, prolongamento e pausa), sound effects e trilha musical. Resultados: Os atores não trabalharam com o texto (roteiro) e por isso não memorizaram ou fizeram marcações de ações ou recursos vocais. Foi um trabalho livre com a máxima valorização da atuação do ator, em que os outros elementos se adaptaram à interpretação. A voz foi trabalhada pelas fonoaudiólogas com alguns atores para que esses pudessem se fazer entender devido a alterações de articulação e projeção. No trecho 1 é estabelecida uma relação intrínseca da velocidade, loudness e entoação aos movimentos da câmera, ao ritmo da interpretação, à montagem, às cores, à iluminação, ao figurino, à música e aos sons. No trecho 2 as vozes acompanham o ritmo da interpretação e da montagem, possuem dinâmicas diferenciadas que expressam as características de cada uma das personagens. A situação cênica e a voz privilegiaram a personagem Zé Pequeno demonstrando sua força, impondo sua subjetividade, interferindo por meio das entoações, pausas, loudness e velocidade, em todas as outras personagens presentes. No trecho 3, dividido em três partes, foi possível observar que a linguagem cinematográfica, a interpretação e as vozes se modificam em cada uma delas. Conclusão: O filme analisado foi realizado seguindo uma diferenciação de linguagem em cada uma das partes da história e, dessa forma, o roteiro, a cinematografia, as músicas, a montagem, a interpretação, assim como a voz, seguiram um estilo específico em cada uma delas. A análise possibilitou pensar num trabalho fonoaudiológico com o ator para além do texto, que poderia ser realizado para que o ator, ao ativar alguma experiência vivida por ele, análoga à experiência que precisa vivenciar em cena, encontrasse gestos e manifestações vocais resultantes dessas experiências psíquicas ou emocionais. A técnica entraria para lapidar esse estado anterior e fundamental no trabalho do ator. O texto (palavras) surgiria de um outro texto, tecido pelas intenções, idéias, emoções e sentimentos, ou seja, o texto e a voz nasceriam do subtexto

ASSUNTO(S)

voz motion pictures voz fonoaudiologia language and hearing sciences cinema -- linguagem cidade de deus (filme) -- critica e interpretacao fonoaudiologia voice speech cinema art arte

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