A Relação entre Religiosidade, Culpa e Avaliação de Qualidade de Vida no Contexto do HIV/AIDS

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Com o advento dos medicamentos antirretrovirais, a AIDS passou a ser representada como uma doença crônica. Como consequência houve um maior prolongamento na vida de pessoas soropositivas ao HIV/AIDS levantando-se questões como: enfrentamento diante da doença, relevância das redes de apoio social e qualidade de vida. Nesse contexto, o construto qualidade de vida começou a fazer parte da abordagem de políticas públicas de saúde no contexto de HIV/AIDS e veio englobar diversas dimensões em sua avaliação. Portanto, o presente estudo objetivou investigar a relação entre religiosidade, sentimento de culpa e percepção da qualidade de vida em pessoas soropositivas para HIV/AIDS. Método: Participaram do presente estudo, de forma não probabilística e acidental, 90 pacientes de um hospital de referência no atendimento de pessoas soropositivas ao HIV/AIDS em João Pessoa-PB, na faixa etária de 19 a 48 anos (M = 33,7; DP = 6,6), de ambos os sexos, sendo 56% do sexo masculino e 63,3% residiam na área metropolitana de João Pessoa. Os participantes responderam os seguintes instrumentos: Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-BREF); Questionário de Avaliação de Atitude Religiosa (QAAR); Escala Multidimensional de Culpa e um Questionário Sócio-demográfico e Clínico. Os dados foram submetidos a análises descritivas e bivariadas (correlação); utilizou-se o teste t de Student para se verificar as diferenças entre as médias de grupos-critérios. Realizou-se também uma análise de regressão múltipla (stepwise) com o objetivo de verificar quais variáveis melhor explicariam a qualidade de vida para a presente amostra. Resultados: Em relação aos dados clínicos, o tempo de diagnóstico dos pacientes variou de 1 até 28 anos (M=6,25; DP=4,91), 87,8% faziam uso da terapia antiretroviral e 60% relataram não terem contraído doenças oportunistas. A contagem dos linfócitos CD4 variou 32 até 1250 mm (M=524,6; DP=274,83). Verificou-se boa avaliação de qualidade de vida entre os pesquisados (M=65; DP=19,9), contatando-se que as mulheres avaliaram melhor o domínio Físico do que os homens (t = 2,29; gl = 82,9; p = 0,02). Observou-se relação entre o domínio religiosidade/espiritualidade e crenças pessoais (RECP) e a avaliação de qualidade de vida geral (r = 0,33; p = 0,001); o domínio RECP também se correlacionou com os domínios psicológico (r = 0,39; p = 0,001), social (r = 0,41; p = 0,001) e ambiental (r = 0,35; p = 0,001) do WHOQOL-BREF. Além desses resultados, as mulheres apresentaram maiores médias de atitude religiosa que os homens (t = 2,12; gl = 88; p = 0,03). Foi também verificada correlação inversa entre culpa temporal e domínio físico de qualidade de vida (r = -0,37; p = 0,001). Entre os pacientes sintomáticos, houve correlações inversas entre o domínio físico e as dimensões de culpa temporal (r = -0,63; p = 0,001), culpa subjetiva (r = -0,38; p = 0,02) e culpa objetiva (r = -0,37; p = 0,02). Considerações Finais: Este estudo demonstrou que a religiosidade se apresenta como aspecto relevante na vivência de doenças, se evidenciando mais presente na percepção de qualidade de vida em pessoas com avaliações de saúde desfavoráveis, oferecendo suporte social, emocional e estrutural. Além disso, a presença de sentimentos de culpa com a progressão clínica da doença se tornou evidente, relacionando-se também com os domínios de qualidade de vida. Espera-se que esse estudo auxilie profissionais e pesquisadores a compreenderem melhor os diversos determinantes relacionados à saúde e que se evidenciam no cotidiano de pessoas que vivem com HIV/AIDS, favorecendo a elaboração de estratégias de ação que englobem esses aspectos.

ASSUNTO(S)

psicologia social religiosidade qualidade de vida hiv/aids psicologia psicologia social religiosidade qualidade de vida hiv/aids

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