A relação de proteção entre mãe e filha no contexto do abuso sexual

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta tese trata da relação de proteção entre a mãe e a filha vítima de abuso sexual. Buscou-se compreender aspectos influentes das relações de gênero, da transgeracionalidade e do contexto socioeconômico dessas famílias na relação de proteção, tendo com base a história de vida das mães e da família atual. Abalizada na teoria sistêmica da família, nas concepções sobre gênero e na teoria de vínculo d Bowlby, foi construída uma abordagem que envolveu diferentes etapas, assim como técnicas e procedimentos na construção dos dados. A pesquisa foi realizada em uma instituição de assistência social em uma cidade periférica do Distrito Federal, tendo como contexto o Grupo Multifamiliar (GM). O método utilizado foi a pesquisa-ação associado a princípios da história de vida. Para análise e interpretação das informações construídas ao longo da pesquisa utilizamos a proposta de Investigação Qualitativa de González Rey, que possibilitou o agrupamento dos resultados em três conjuntos de indicadores que resultaram em seis zonas de sentido, a saber: 1) histórias de pobreza e desproteções que se espelham; 2) ciclo de vida - etapas encurtadas e sobrepostas; 3) A fragmentação familiar - tudo continua com uma ruptura; 4) padrões relacionais que se repetem - conflitos e violência intrafamiliar; 5) relação com os filhos a matriz que se re-atualiza e 6) filhos protegidos, filhos que protegem. Concluímos que a história familiar e socioeconômica das mães repercutiu na qualidade da proteção devida as suas crianças e adolescentes. Contudo, a percepção que as crianças e adolescentes possuem das mães é positiva, tendo-as como uma figura de proteção e apoio. Isso parece ocorrer, pois, apesar de todas as limitações psicossociais que jogam contra o seu papel de mãe, essas mães não são mães que maltrataram ou abandonaram essas crianças e adolescentes, e tampouco foram ausentes na vida dessas meninas. O abuso sexual do qual suas filhas foram vítimas não foi simplesmente pela falha da relação de proteção dessas mães, uma vez que são elas próprias vítimas secundárias da violência, e vítimas primárias das contingências desfavoráveis da vida nesse processo que envolve diversas outras violências. A partir do percurso que nos proporcionou esta pesquisa, podemos afirmar que a violência estrutural, compreendida aqui pelo processo de empobrecimento e exclusão sociocultural embrenhado pelas lógicas de dominação e hierarquização social (de classe, de gênero, de cor), na qual essas famílias estão imersas, interferiu e interfere profundamente nos vínculos e nas relações de cuidado na família, impondo situações de sacrifícios e insegurança nas quais as crianças e adolescentes, bem como as mulheres, são as mais atingidas. Nesses casos, o abuso sexual se tornou uma vitimização concreta frente ao conjunto de riscos possíveis a que essas famílias estão submetidas e das poucas armas que possuem para se proteger.

ASSUNTO(S)

attachment abuso sexual relação de proteção pobreza gênero vínculo psicologia sexual abuse protective relationship poverty gender

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