A prosódia e a função comunicativa nas estereotipias da fala de indivíduos afásicos

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

02/05/2011

RESUMO

Este trabalho constitui a primeira descrição da estereotipia verbal afásica na língua portuguesa. É um estudo de caso clínico no qual se analisa a expressão oral de sujeitos afásicos adultos em seus aspectos prosódicos. Com o objetivo de melhor compreender o funcionamento prosódico na afasia, e especialmente nas estereotipias, buscou-se comeste estudo comprovar a hipótese que o afásico que utiliza as estereotipias como forma de expressão o faz utilizando-se de forma apropriada os recursos prosódicos, ao mesmo tempo em que estes cumprem com efetividade a finalidade de comunicação. Delineouse um estudo instrumental com tarefas linguísticas de repetição e nomeação. Na tarefa de repetição o conteúdo a ser repetido eram seis atos de fala ilocucionais de asserção, pergunta e ordem, e na tarefa de nomeação os estímulos eram onze palavras com número de sílabas e acentuação diferentes. O grupo experimental (GE) foi composto de oito sujeitos afásicos portadores de Afasia Global crônica e estereotipia não lexical e o grupo controle (GC) foi composto de quatro sujeitos (três do gênero feminino e um do gênero masculino) não afásicos. Os enunciados coletados foram analisados através do programa computacional de análise acústica PRAAT fundamentando-se a análise do grupo controle no modelo Teórico de Entonação de Halliday (1970). Quanto ao grupo de afásicos nossa análise baseou-se nos achados de Rizzo (1981) e sua afirmação de que a entonação tem um papel importante na descrição dos atos de fala. Os resultados encontrados na tarefa de repetição foram: grande variabilidade na duração do enunciado comparado ao enunciado controle, levando à Síntese que o conhecimento sobre o tamanho físico do enunciado não está preservado. A freqüência fundamental (F0) apresenta um padrão entonativo descendente em todos os enunciados, independente da modalidade sendo o padrão entonativo apresentado peculiar, particular a cada indivíduo, podendo ser considerado estereotipado. O padrão de tessitura varia tanto entre indivíduos quanto entre enunciados de tipos diferentes. No ritmo houve dificuldade de se enquadrar a estereotipia dentro dos padrões de ritmo acentual e silábico. Na maioria das vezes, o que se observou foi a produção de sequências de sílabas a que nos referimos como ritmo silabado. Com relação à intensidade os sujeitos estudados apresentaram uma curva ascendente-descendente, considerada padrão para a fala normal. Na tarefa de nomeação o padrão entonativo apresentado foi em sua maioria ascendente nas primeiras sílabas e descendente na última. A duração do enunciado se manteve longa, com valores bem superiores às das palavras-alvo. A organização da palavra, com referência ao número de sílabas, não foi observada, não havendo qualquer correspondência entre a palavra-alvo e a emissão. A hipótese de nosso trabalho não se confirmou e os dados encontrados sugerem que há um forte componente individual no desenvolvimento da estereotipia, tanto no nível segmental como prosódico. O padrão entonativo apresentado pelos sujeitos afásicos estudados, não corresponde ao padrão entonativo esperado da fala normal e os parâmetros acústicos apresentam uma variabilidade com características muito particulares. Os resultados apontam para uma prosódia estereotipada, ou seja, produto de um processamento automático, limitada em seu repertório, sem a interferência de um controle que envolvesse habilidades cognitivas e intenção comunicativa.

ASSUNTO(S)

lingua portuguesa versificação teses. análise prosódica (linguística) teses. atos de fala (lingüística) teses. afasia teses. distúrbios da fala teses. apraxia teses. pragmática teses. entonação (fonética) teses. fonética acústica teses. comunicação oral teses.

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