A pratica de interpretação na escola : uma abordagem discursiva

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

Este estudo tem como propósito uma reflexão sobre a questão da interpretação de textos na escola de primeiro grau. Tem como objetivo específico, explicitar, através de uma abordagem discursiva, o modo como se configura, no campo discursivo do livro didático (LD), o lugar do aluno-leitor, o sujeito interpretante da escola. Esta abordagem propõe como lugar de reflexão, a Análise do Discurso de origem francesa, iniciada por M. Pêcheux. Mediante um dispositivo teórico, fez-se uma análise discursiva de três espaços discursivos do LD: o Dizer dos autores dos LDs, sobre a questão do Estudo de Texto (e da interpretação); a Terminologia; e os Tipos de questões trabalhadas em sala de aula. A análise nos mostrou, nos três espaços discursivos, um lugar de leitor que se configura por uma instabilidade discursiva. Uma instabilidade que se constituí de contradições e ambigüidades, conseqüentemente, oferecendo lugar a uma posição ambígua e contraditória de sujeito-leitor que se mostra, ora como decodificador; ora como leitor "crítico", capaz de reflexão. O trabalho de interpretação proposto pelo LD se caracteriza, essencialmente, por dois tipos de questões: questões centradas no texto (compreensão e interpretação); e questões centradas no leitor (interpretação crítica). O primeiro tipo estabelece uma relação de contigüidade entre leitor e texto. Neste caso, o trabalho de interpretação significa exercício de cópia e/ou imitação do que está escrito no texto; o segundo "devolve" ao leitor a sua ~autonomia", colocando-o na origem do dizer. Neste caso, a resposta pode ser qualquer uma, uma vez que este tipo de questão produz o afastamento entre leitor e texto. Mas, justo, neste lugar de "liberdade" do dizer, é que se pode identificar um paradoxo: a emergência de uma posição de leitor que se nega á dizer, deixando a resposta em branco. Pode-se dizer que o LD se configura como um lugar de interdição à interpretação do aluno-leitor. E identifica-se isso, mais nitidamente, nos tipos de questões que trabalham a relação leitor x texto, e que caracterizam os momentos de compreensão, interpretação e interpretação crítica. E, conclui-se que é na interpretação crítica - o lugar por excelência da interpretação, segundo o LD - que mais se acentua o processo de coerção: o assujeitamento do aluno em "leitor ideal", o leitor consciente e crítico, capaz de controlar o próprio conhecimento. Um sujeito livre, porém, submisso. Um sujeito jurídico. Mas é aí, também, que se identifica um lugar de resistência: o espaço em branco deixado por um leitor que se nega a dizer, não porque não saiba interpretar; mas, porque se nega a dizer o dizer de um outro, imposto pelo LD. O espaço em branco pode significar, assim, um lugar de ruptura: o lugar de um leitor outro

ASSUNTO(S)

leitura livros didaticos analise do discurso

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