A pesquisa sobre formação de professores e multiculturalismo no Brasil : tendências e desafios / Research on teacher education and multiculturalism in Brazil: trends and challenges

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O presente estudo advoga a tese de que a prevalência da perspectiva multicultural conservadora, encontrada nos resultados dos estudos selecionados, enseja a construção de identidades essencializadas e o abafamento das diferenças. Tal perspectiva constitui forte obstáculo à concepção aqui defendida de formação de professores como intelectuais, com mandato de herdeiro, intérprete e crítico, que compreendam as identidades e as diferenças como produtos e produtores da história, da cultura, da ideologia e, também, das relações de poder. Para tanto, estrutura-se o trabalho em torno da questão: o que os estudos produzidos e publicados no Brasil, quando abordam a inserção do multiculturalismo na formação docente, revelam? Esta questão central se desdobra em outras: De que maneira essa inserção ocorre no currículo da formação docente? Qual(is) concepção(ões) de multiculturalismo está(ão) presente(s) nesses trabalhos? De que maneira as categorias multiculturais (classe social, raça/etnia, gênero etc) têm sido compreendidas nos trabalhos selecionados? E para responder às questões acima, estabelecemos como universo para a construção e a análise dos dados, os artigos publicados em periódicos Internacional A e Nacional A e os trabalhos apresentados em importantes eventos da área de Educação, a saber: as Reuniões Anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e os Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), entre os anos de 2000 e 2006. Entre as principais tendências constatadas nos 57 textos selecionados, destaca-se uma acepção multicultural conservadora e uma liberal de esquerda na realidade da formação docente. Por meio delas, a formação de professores assume o tratamento da diferença como tendo um cunho psicológico ou biológico, sendo, desta forma, um aspecto que estabelece hierarquias, inferiorizando aqueles que diferem do padrão ideal. A diferença é, sempre, algo que falta ao indivíduo ou um desvio. A identidade é tratada de maneira essencializada e binária: o masculino em oposição ao feminino, branco em oposição ao negro. São poucos os estudos que assumem um conceito híbrido de identidade. Ademais, a relação entre a maioria e a minoria é tomada sob uma ótica maniqueísta, polarizando o grupo oprimido e o grupo opressor. Por fim, a formação de professores ainda se encontra sob a égide do tecnicismo, ensejando uma ruptura entre a teoria e a prática e a preparação de professores tanto no âmbito inicial quanto no continuada que trabalhe em prol da manutenção do status quo. Conclui-se que há muito para construir na direção de uma educação multicultural, que enseje a formação de professores intelectuais com mandato de herdeiro, intérprete e crítico. Além disso, para o professor intelectual, o multiculturalismo precisa ser assumido como um discurso de esperança e possibilidade.

ASSUNTO(S)

teacher education multiculturalismo teacher intellectual professores - formação multiculturalism educacao professor intelectual metodologia de ensino

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