A pesca de iscas vivas na região estuarino-lagunar de Cananéia/SP : análise dos aspectos sociais, econômicos e ambientais como subsídio ao manejo dos recursos e ordenamento da atividade

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Semelhante ao que ocorre em determinados locais de rica biodiversidade e que oferecem atrativos turísticos observa-se na região do Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida SP/Brasil o aumento do número de turistas, especialmente aqueles que praticam a pesca amadora, proporcionando um novo mercado consumidor à dinâmica local. A isca viva é uma das demandas requeridas por este mercado e sua pesca passou a ocorrer com freqüência entre os pescadores artesanais desta região. As principais espécies capturadas são os juvenis do camarão branco (ou legítimo) Litopenaeus shmitti (Burkenroad, 1936) e do camarão rosa (ou ferro) Farfantepenaeus paulensis (Pérez-Farfante, 1967) e Farfantepenaeus brasiliensis (Latreille, 1817). Sendo uma prática relativamente recente, estudos sobre os aspectos sociais, econômicos e ambientais são necessários para a elaboração de propostas de manejo dos recursos e ordenamento da atividade. Para a compreensão da dinâmica da pesca de iscas vivas quanto a estes aspectos, foram realizadas nove viagens de campo, entre maio de 2006 e julho de 2008, onde foram realizadas entrevistas estruturadas e semi-estruturadas junto aos pescadores de iscas vivas e outros atores importantes da atividade. As informações relativas à produção pesqueira e lucro da atividade foram obtidas por meio de planilhas preenchidas por grupos de pescadores durante o ano de 2007. Os sítios de pesca foram georreferenciados. Os resultados indicaram um universo de 80 pescadores de iscas vivas na região estuarina de Cananéia, distribuídos em 10 comunidades distintas. A procura pelo recurso está relacionada à comercialização, que é feita diretamente com os pescadores amadores. Estes compram iscas tanto nos locais onde estão hospedados, como durante a prática pesqueira, nas diversas comunidades que margeiam o complexo estuarino. Em todas as comunidades visitadas existem pescadores que têm uma clientela consolidada e por isso pescam iscas vivas durante o ano todo, e pescadores que comercializam a isca viva como complementação de renda, pescando apenas nos momentos em que a safra é abundante, não sendo necessário procurar em lugares distantes para encontrar o recurso. O petrecho mais utilizado pelos pescadores é o gerival. Este petrecho foi introduzido na região na década de 80 e por suas características de fácil manuseio e individualidade, muitos pescadores passaram a pescar iscas vivas. A embarcação a motor, do tipo voadeira, também é utilizada na pesca por grande parte dos pescadores. Para aplicar as estratégias de pesca, os pescadores de iscas vivas conhecem o movimento das espécies de camarão no ambiente estuarino e os fatores abióticos que influenciam na dinâmica do estuário (precipitação chuvosa, regime de marés, salinidade e turbidez). Os camarões capturados são armazenados em viveiros imersos nas águas do estuário, para que possam ser vendidos vivos. No entanto, eles têm um tempo de sobrevivência no interior destas estruturas que não ultrapassa cinco dias, e quando morrem não são aproveitados para nenhuma outra finalidade, nem para o consumo alimentar. Assim, o esforço de pesca dos pescadores deve estar atrelado à comercialização, para que não haja prejuízos de tempo e dinheiro investidos na viagem de pesca. As marinas da região têm forte influência sobre a pesca de iscas vivas nas comunidades em que estão localizadas, pois concentram um elevado número de pescadores amadores, compradores do recurso. A pesca de iscas vivas pode ser bastante lucrativa quando a oportunidade de comercialização é garantida e constante. As informações obtidas neste trabalho proporcionaram a elaboração de recomendações que envolvem um intenso plano de comunicação, a ampliação do diagnóstico da atividade pesqueira na região, a continuidade do monitoramento da produção pesqueira, o manejo do recurso por meio da adoção de tecnologias de armazenamento do camarão capturado, e a avaliação da possibilidade de licença especial para o cultivo de camarão nativo.

ASSUNTO(S)

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