A influência da evolução de altos estruturais em sucessões aluviais: exemplos do Ediacarano e do Cambriano da Bacia Camaquã (RS) / The influence of the evolution of structural highs in alluvial successions: examples from the Ediacaran and from the Cambrian of the Camaquã Basin (Southern Brazil)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Análises de proveniência sedimentar são tradicionalmente utilizadas com o objetivo de reconstruir a relação entre depósitos sedimentares e suas respectivas áreas fonte, de forma a permitir a composição do contexto tectônico regional. Uma aplicação menos explorada dos métodos de análise de proveniência sedimentar é a avaliação detalhada das variações de áreas fonte ao longo da história de preenchimento de uma bacia sedimentar e das variações locais de proveniência em intervalos estratigráficos específicos. Tais estudos podem trazer importantes inferências sobre a configuração dos alto estruturais vizinhos à bacia sedimentar, assim como informações a respeito de eventos tectônicos capazes de mudar o padrão das drenagens que alimentam a bacia sedimentar. Na Bacia Camaquã (Ediacarano-Cambriano, RS) o Grupo Santa Bárbara e o Grupo Guaritas registram eventos de atividade de altos estruturais durante a sedimentação, responsáveis pela segmentação da bacia em sub-bacias. O Grupo Santa Bárbara compreende sucessões siliciclásticas distribuídas em três sub-bacias separadas pelos altos de Caçapava do Sul e da Serra das Encantadas. Na sub-bacia ocidental esse grupo apresenta depósitos de arenitos e conglomerados aluviais, depósitos siltoarenosos de ambientes fluviais distais e lacustres e depósitos conglomeráticos de leques aluviais, que compõem um ciclo retrogradacional inicial, seguido por dois ciclos progradacionais separados por uma superfície brusca. O Grupo Santa Bárbara na sub-bacia central, por sua vez, apresenta uma sucessão siltoarenosa com base conglomerática, que se estende até a porção média da sucessão sedimentar, quando dá lugar a depósitos conglomeráticos de leques aluviais que são depois sucedidos por nova sucessão siltoarenosa no topo da unidade. O Grupo Guaritas apresenta depósitos de rios entrelaçados na base e no topo da unidade, com interdigitação de sistemas deposicionais eólicos, de rios entrelaçados e de leques aluviais na porção intermediária da sucessão. Os depósitos do Grupo Santa Bárbara na sub-bacia ocidental foram investigados em detalhe por meio de levantamentos sistemáticos de dados de proveniência em escala de afloramento, em lâmina delgada e por meio de análises isotópicas em zircões detríticos. Os resultados mostram áreas fonte distintas entre os depósitos aluviais da base e do topo da unidade, sendo que em ambos a proveniência é local. Os depósitos da base têm áreas fonte a oeste e sudoeste da bacia, enquanto os depósitos do topo da unidade têm áreas fonte a leste da bacia, no alto de Caçapava da Sul, sugerindo uma mudança na configuração das áreas fonte que teria início correspondente ao primeiro nível conglomerático da sucessão aluvial intermediária da unidade. Adicionalmente os dados de proveniência indicam ausência de deslocamento entre áreas fonte e depósitos sedimentares indicando que o rejeito das falhas de borda é normal, como esperado para bacias do tipo rift. As sucessões sedimentares do Grupo Santa Bárbara na sub-bacia central foram investigadas de maneira preliminar por meio de análise de proveniência macroscópica. Os dados indicam pouca variação de áreas fonte na história da bacia, com áreas fonte predominantemente no Alto da Serra das Encantadas, que estaria então soerguido. Nos depósitos conglomeráticos superiores há uma contribuição de litoclastos atribuídos ao Alto de Caçapava do Sul. O Grupo Guaritas teve depósitos sedimentares do topo de sua sucessão estudados por meio de análise de proveniência macroscópica em depósitos de leques aluviais e em depósitos fluviais, que cobrem os anteriores em contato erosivo. Os dados apontam para proveniência estritamente local, do Alto da Serra das Encantadas nos depósitos de leques aluviais, enquanto que os depósitos fluviais contam com áreas fonte mais distantes, sugerindo que o Alto da Serra das Encantadas sofreu subsidência e foi recoberto nesse intervalo de tempo. Os dados indicam que o soerguimento do Alto de Caçapava do Sul, que se deu durante a deposição do Grupo Santa Bárbara e individualizou a sub-bacia ocidental, teria provocado uma progradação instantânea dos depósitos sedimentares, ao contrário do previsto em modelos tectônicos disponíveis, em consequência do aumento do aporte sedimentar pela erosão de sedimentos pouco litificados depositados sobre o Alto de Caçapava do Sul e de uma queda na taxa de subsidência das bacias provocado por um amplo domeamento antes da nucleação da falha de borda. Tal progradação está registrada nas sucessões aluviais intermediárias do Grupo Santa Bárbara nas sub-bacias ocidental e central. Após o estabelecimento da falha normal na borda leste do alto estrutural há uma passagem brusca para depósitos mais distais, na sub-bacia ocidental seguida de progradação de cunhas clásticas no topo da unidade, enquanto que na sub-bacia central há uma retrogradação sugerindo que o soerguimento do Alto de Caçapava do Sul tenha resultado na captura de um sistema de drenagem que alimentava toda a bacia para o graben da bacia ocidental, diminuindo assim o aporte sedimentar na sub-bacia central. O Grupo Guaritas indica, por sua vez, uma situação inversa, com mudança nos sistemas deposicionais provocada pela subsidência do Alto da Serra das Encantadas, que teria permitido a captura de sistemas de drenagem para dentro da bacia, promovendo o aumento do aporte sedimentar e a substituição dos sistemas eólicos e de leques aluviais por sistemas fluviais entrelaçados.

ASSUNTO(S)

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