A fragmentação florestal e a interação entre formigas e diásporos carnosos na floresta Atlântica / Forest fragmentation and the interaction between ants and fleshy diaspores in the Atlantic forest

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

10/02/2012

RESUMO

Em florestas tropicais, formigas de folhiço são freqüentemente vistas em interação com diásporos vegetais (frutos e sementes). Em alguns casos, esta interação oportunista resulta em um mutualismo. Enquanto formigas se beneficiam ao alimentar-se de partes carnosas nutritivas (i.e., polpa, arilo), elas podem beneficiar a semente, por exemplo, ao aumentar sua chance de germinação ou ao dispersá-la para micro-sítios ricos em nutrientes. Portanto, para algumas espécies de plantas, a perda de interações formiga-diásporo pode implicar numa redução do recrutamento de novos indivíduos. Nesta tese, estudamos os padrões de interação entre formigas e diásporos em dois tipos contrastantes de florestas, representativos do que resta da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo: florestas contínuas (CFs) e fragmentos de floresta com vegetação secundária (FFs) (quatro áreas cada). Durante este estudo, quatro abordagens complementares foram adotadas. Primeiramente, registramos as interações entre formigas e diásporos em cada uma das oito áreas durante um ano. As principais famílias de plantas assim como os principais gêneros de formigas registrados correspondem a grupos importantes já listados em estudos prévios realizados neste bioma. Apesar da abundância similar de diásporos considerados atrativos entre os dois tipos de floresta, houve um maior número de interações na floresta contínua. Esta diferença é provavelmente devida à comunidade vegetal depauperada dos fragmentos, composta por espécies menos atrativas para as formigas. Com base no mesmo conjunto de dados, comparamos se a topologia das redes de interação formiga-fruto diferiu entre os dois tipos de floresta. Três das sete métricas calculadas foram afetadas pelo tipo de floresta. A diminuição do número de espécies de plantas nos fragmentos florestais parece ser um fator-chave para justificar os resultados obtidos. Na terceira abordagem, oferecemos um diásporo sintético rico em lipídios em estações de remoção para comparar a visitação e o comportamento das formigas entre os dois tipos florestais. Em geral, um maior número de espécies de formigas foi atraído às estações das CFs. A freqüência de grandes poneríneas (em especial, Pachycondyla striata) em interação com diásporos sintéticos foi mais elevada em CFs, estando relacionada com uma maior remoção de diásporos nestas áreas. Por fim, avaliamos experimentalmente se a manipulação prévia por aves (uma condição mais comum em florestas contínuas) afeta a atratividade de diásporos caídos em relação a formigas. Para este procedimento, utilizamos o arbusto Psychotria suterella (Rubiaceae), comum no subosque de nossa área de estudo e cujos diásporos são dispersos por aves. Frutos que já tiveram contato com vertebrados apresentaram uma maior chance de interagir com formigas. Este resultado sugere que espécies vegetais em florestas fragmentadas, comumente sujeitas à perda de seus dispersores primários, ainda são afetadas pela diminuição da atratividade de frutos intactos para formigas (dispersores secundários), a despeito da abundância destes insetos no chão da floresta. De forma geral, os resultados desta tese indicam que a fragmentação da Floresta Atlântica afeta negativamente as interações formiga-diásporo. Portanto, é possível que em fragmentos florestais haja uma diminuição dos potenciais benefícios a sementes e plântulas derivados da interação com formigas, podendo repercutir negativamente no recrutamento das plantas.

ASSUNTO(S)

sementes - dispersão formiga - ecologia interação inseto-planta diásporo não-mirmecocórico redes de interações seeds dispersal ants insect-plant interactions non-myrmecochorous diaspore interaction networks

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