A crítica ao SUS no jornal Folha de São Paulo / Criticism of SUS (Brazilian National Health System) in the newspaper: Folha de São Paulo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo o estudo da construção da crítica ao SUS no Jornal Folha de São Paulo, em 2008, considerando os sentidos sobre o Sistema, sobre seu gestor e seu usuário. Com essa análise visamos colaborar com as discussões em torno da importância da divulgação do SUS para efetivação de seus princípios e exercício do Controle Social. Para tanto, procedemos à análise de 667 notícias selecionadas mediante pesquisa on line no acervo da Folha, a partir da análise crítica do discurso e das contribuições da perspectiva construcionista social, lentes metodológicas que nos convidam a explicitar o caráter construído das realidades sociais, considerando os efeitos das diferentes formas de construção para os diversos atores e instituições sociais. Assim, estudamos o processo de produção da crítica ao SUS nas notícias, buscando compreender quais sentidos foram construídos ou privilegiados a partir do uso de diferentes recursos linguísticos, analisando-o como prática textual, e a influência do estilo jornalístico na construção desses sentidos, analisando-o como prática discursiva. Com esse processo, delimitamos a construção da ineficácia do SUS, da (in)competência do governo e da (in)determinação da inserção do usuário. A ineficácia do SUS foi construída mediante algumas estratégias que chamamos de: (1) A nomeação do SUS, com explicitação do termo em notícias sobre aspectos problemáticos e pouco aparecimento do mesmo em notícias sobre feitos exitosos; (2) SUS em crise, caracterizado pela repetição da palavra crise e generalização dos aspectos problemáticos; (3) A eterna memória do ruim, delimitada pelo uso de apesar de e mas, visando trazer a tona aspectos problemáticos do sistema; e (4) A ironização do SUS, marcada pelo uso da ironia ao se falar sobre seus serviços. Na construção da (in)competência do governo, encontramos: (1) A desmoralização do governo, sinalizando a intenção do mesmo de esconder dados problemáticos; (2) Outros que fazem melhor, com a valorização do privado, do internacional e do filantrópico em detrimento do público e nacional; (3) A voz dos especialistas atestando a incompetência do governo, com a deslegitimação da voz oficial; (4) Personalização do governo, ocorrendo a associação da responsabilidade do governo com motivações, quereres e afetos de pessoas; e (5) O foco no tempo, havendo a naturalização da demora ao se falar do tempo demandado para que ações em saúde acontecessem. Com relação a (in)determinação da inserção do usuário no sistema, delimitamos três estratégias: (1) Despolitização do usuário, marcada pela inserção do usuário a partir do uso de diferentes serviços de maneira descomprometida; (2) Politização limitada, caracterizada por uma participação política restrita a espaços consentidos ou delimitada a alguns seguimentos sociais; e (3) Judicialização, marcada pela exigência de direitos individuais via ação judicial. Assim, ocorreu o apagamento da possibilidade de atuação via conselhos de saúde e/ou conferências de saúde. Esses sentidos foram produzidos a partir da busca pelo furo jornalístico, caracterizado em nosso estudo pela (1) sazonalidade na publicação de notícias; (2) pelo uso de manchetes bombásticas; (3) pela simplificação, com o intuito de propiciar o entendimento da notícia pelo maior número de pessoas; e (4) pelo uso de recursos de visibilidade, como dados acumulados, comparações e metáforas concretas. Todos esses recursos e sentidos propiciam uma visão limitada e negativa do SUS, baseada na desconfiança e na impossibilidade de melhorar o sistema. Além disso, a partir da construção da (in)competência do governo e da (in)determinação da inserção do usuário, consideramos que não ocorre a divulgação do controle social como forma de atuação e participação no SUS, o que oculta a história e o processo democrático de construção do mesmo.

ASSUNTO(S)

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