A cor vigiada : uma crítica ao discurso racializado de prevenção ao crime

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O presente estudo apresenta uma análise da noção de prevenção a partir de situações em que o objetivo é a prevenção ao crime. Exploro fontes de natureza variada, observando as interpretações que os sujeitos fazem da violência e da proposta preventiva enquanto solução para a diminuição de crimes. Analiso o modo como discursos e práticas da prevenção projetam-se nas relações e se articulam produzindo tecnologias e estratégias de proteção que vão além do material muros, alarmes, blindagem de carros etc, sugerindo comportamentos, técnicas de identificação de sujeitos e situações potencialmente perigosas, a fim de poder evitá-las ou modificá-las. A partir desse comportamento, multiplicam-se as regras de evitação e a exclusão, produzindo práticas, relações, bem como diferenças hierarquizadas e identidades. Sugiro que o princípio da prevenção gira em torno de possibilidades evitáveis e que tal premissa não só parte de uma realidade ―X‖, reagindo a ela, mas é produtora de comportamentos de evitação, exclusão e de mais violência. Observando a incidência de um modelo de comportamento entendido como ideal o preventivo e de práticas justificadas mediante um contexto de violência, afirmo que este comportamento traduz uma ―metonímia de expansão da violência‖ termo cunhado pelo antropólogo José Jorge de Carvalho e que os elementos que acionam a evitação e a exclusão de determinados sujeitos tidos como suspeitos, bem como a identificação de outros compreendidos enquanto prováveis vítimas, estão inscritos em seus corpos enquanto signos sociais. Tais signos são contextuais espaciais, históricos, circusntanciais apresentando inclusive especificidades individuais, mas também, e principalmente por mim enfocados, estruturais, denunciando poderes e saberes históricos e naturalizados de constituição de relações e sujeitos. Mediante a grande quantidade de signos e marcas estruturais que apresentam esses sujeitos suspeitos e prováveis vítimas, escolhi trabalhar com um deles, especificamente, a raça/cor como signo de suspeição ou vitimização. Para tanto, utilizo como uma das fontes do trabalho a descrição de um caso, veiculado midiaticamente, em que um sujeito negro foi acusado, no estacionamento do hipermercado Carrefour de uma grande cidade (São Paulo), de roubar seu próprio carro.

ASSUNTO(S)

violência medo prevenção exclusão social identidades e racismo antropologia violence fear prevention social exclusion identity racism

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