A construção e a (tentativa de) desconstrução da Cultura Usiminas: narrativas ao longo de 50 anos

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

30/05/2011

RESUMO

Nesta tese apresento e discuto a construção da Cultura Usiminas desde os anos 1950, quando engenheiros, empresários e políticos mineiros começaram a discutir a criação de uma grande usina siderúrgica em Minas Gerais. Em seguida, discorro sobre a tentativa de desconstrução dessa cultura empreendida de forma explícita pelos dirigentes que estiveram à frente da Empresa no período 2008/2010. Por fim, procuro mostrar como os empregados vivenciaram esse movimento e reagiram, manifestando sua insatisfação e articulando-se em níveis variados para, por sua vez, desconstruir o discurso disseminado pela nova gestão. A Cultura Usiminas é entendida aqui como um imaginário, construído coletivamente e ao longo do tempo por diversos atores. Entendo que os sujeitos têm consciência da plasticidade dos fatos e conceitos e têm condições de moldar suas histórias, de acordo com suas necessidades e sua audiência (GABRIEL, 2004), em seu próprio benefício, dentro de uma luta simbólica contínua (BOURDIEU, 2005). Parto da concepção de que não existe uma cultura organizacional única e utilizo o conceito de culturas nas organizações (CARRIERI et al., 2006). Na mesma linha, refuto o conceito de cultura como variável, e estou mais próxima da perspectiva de cultura como metáfora (Smircich, 1983). Adoto a visão de múltipla configuração cultural, de Alvesson (1995). A tese é construída em uma perspectiva sócio-histórica, a partir de narrativas de múltiplas vozes (BOJE, 1991; 1995; 2000) que revelam contradições e ambiguidades. Além de entrevistas não estruturadas, apoiadas na técnica das narrativas, realizei extensa pesquisa documental (publicações na imprensa, da Empresa, sindicato e vídeos postados trabalhadores na internet). Tive a preocupação de entrecruzar essas histórias, formando uma narrativa de múltiplas vozes (BOJE, 2000). As histórias são analisadas com o suporte de técnicas oriundas do campo da Análise do Discurso (AD) de base francesa (PECHEUX, 1990; MAINGUENEAU, 1998; CARRIERI et al., 2006; SARAIVA, 2009). Apontei temas e personagens, elementos explícitos e implícitos, destacando de que forma as coisas são ditas e o não-dito, o silenciado (FIORIN, 2004; FARIA e LINHARES, 1993). A história resultante deste trabalho de bricolagem tenta seguir uma ordem cronológica e foi estruturada também em função dos principais temas que emergiram dos discursos dos narradores, buscando apontar discursos fundadores (ORLANDI, 1993) e discursos de reação (SOUZA, 1993), estando atenta para o fato de que a verdade histórica é definida sempre em um quadro de disputa simbólica (BOURDIEU, 2005; BOURDIEU, 1996). Tento identificar ainda como determinadas verdades históricas (SOUZA, 1993) foram estabelecidas, em função de interesses, desejos e conveniências. Pude perceber que a Empresa foi marcada desde o início por disputas e conflitos, em todos os níveis, inclusive na alta gestão. Por outro lado, a tentativa de silenciar os conflitos e transmitir uma ideia de homogeneidade e consenso é uma constante. Um dos exemplos encontrados diz respeito à crença de que a Empresa tem uma cultura nipo-mineira, disseminada a partir do final dos anos 1980, acompanhando o movimento que ocorria em vários países em função do sucesso japonês. Curiosamente, os japoneses não ficaram mais do que dois anos à frente da gestão da Empresa, sendo substituídos em função de conflitos com os brasileiros. Como esse, há vários outros achados na pesquisa que demonstram como a história foi sendo reconstruída a partir de diversos interesses, circunstâncias e conjunturas, ao longo do tempo. Em 2008, o presidente que ocupava o cargo há 18 anos foi substituído. Havia uma expectativa positiva por parte dos empregados, que gostariam de importar apenas alguns pedaços da chamada cultura da grande empresa moderna, combinando-os com os aspectos que consideravam positivos da própria Cultura Usiminas. A nova direção, entretanto, promoveu uma mudança radical no discurso oficial e implantou novas práticas de recursos humanos, incluindo downsizing, demissões e terceirizações. Houve também denúncias de atos de assédio moral e sexual durante treinamentos realizados por um consultor, que chegaram à Justiça. Em 2009, empregados, gerentes, dirigentes e sindicato se uniram em torno do imaginário da Cultura Usiminas, como uma estratégia de defesa, silenciando aquilo que eles próprios consideravam negativo e ressaltando o que lhes era conveniente. Esse movimento compreendeu a desconstrução do discurso da empresa e dos personagens da nova gestão; vazamento de informações para a mídia e busca de apoio no governo de Minas Gerais. Ações isoladas e manifestações espontâneas de trabalhadores também ocorreram. Ao final de dois anos de mandato, o novo presidente foi substituído, fato que pode ser atribuído em parte à articulação dos empregados, gerentes e dirigentes da Empresa

ASSUNTO(S)

cultura organizacional minas gerais teses. administração teses.

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