A constipação intestinal funcional em crianças e adolescentes na visão das mães: crenças, sentimentos, atitudes e repercussões sociais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A constipação intestinal crônica funcional é uma doença comum na infância. Embora os estudos na área tenham contribuído para importantes avanços no diagnóstico e tratamento dessa doença, observa-se ainda uma prevalência relativamente elevada, porque pouco se tem feito em relação à prevenção e ao diagnóstico precoce. A forma como a constipação funcional é percebida, isto é, uma doença benigna que cura ou melhora com o tempo e/ou maturação da criança, tem como conseqüência um atraso na intervenção médica, às vezes até por alguns anos. Esses fatores contribuem para que a doença se agrave e sintomas como, o escape fecal, sejam responsáveis por repercussões graves na qualidade de vida das crianças e no seu desenvolvimento emocional, assim como pelo estresse familiar. A constipação funcional é hoje abordada por meio de um modelo teórico biopsicossocial, uma visão na qual os fatores causadores da doença são, fisiologicamente, plurideterminados e os aspectos psicossociais da vida do paciente e a percepção deste do seu processo de adoecimento são fatores altamente relevantes ao diagnóstico e tratamento. Nessa perspectiva, a abordagem familiar tem sido apontada como mais eficaz. A importância médica, epidemiológica, social e psicológica da constipação funcional, associada à escassa literatura no que se refere à percepção e vivência das mães sobre essa doença em nosso meio, foram fatores decisivos na escolha do tema desta pesquisa. O estudo é apresentado sob a forma de dois artigos: o primeiro, trata da influência da família no processo de adoecimento e cura, ressaltando a relevância dessa abordagem no contexto das doenças gastrintestinais funcionais. O segundo, é um estudo qualitativo, por meio do qual se procurou conhecer as percepções das mães de crianças e adolescentes sobre a doença e o seu tratamento. Quatorze mães de crianças e adolescentes que estavam tratando de constipação intestinal crônica funcional há pelo menos seis meses, em um Ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica em Belo Horizonte, foram entrevistadas e os resultados foram analisados de acordo com a teoria da análise do discurso. As percepções das mães foram agrupadas em quatro categorias: definição, causas e fatores que agravam a constipação funcional; cognições, sentimentos e atitudes diante da criança constipada; repercussões familiares e sociais da constipação funcional e percepções sobre a cura, tratamento e atendimento médico. O estudo possibilitou evidenciar o conhecimento do senso comum que serve de guia para a ação e a leitura da realidade construída pelas mães. Observou-se que essa visão é construída na interação e no contato com os discursos que circulam no espaço público, além de ser permeado pela forte carga emocional que, em muitos casos, é mobilizada pela doença. Observou-se uma diferença significativa entre o discurso das mães de crianças cujo tratamento havia sido iniciado mais precocemente e/ou apresentava melhores resultados e o das mães de pacientes (geralmente pré-adolescentes ou adolescentes) com escape fecal e, em especial, naqueles que apresentavam histórico de longa duração desse sintoma. Nesse último grupo, intensos sentimentos de culpa e agressividade que, algumas vezes levavam ao descontrole pulsional, foram observados. Esses aspectos apontam para a importância da prevenção da constipação crônica funcional. Intervenções que promovam a educação para a saúde, direcionada a profissionais das áreas, médica e educacional, parecem ser prementes. Incluir, na rotina dos atendimentos desses pacientes, um espaço para a escuta das mães é também uma necessidade que ficou evidente após este estudo, já que é sobre as mães que recai a maior sobrecarga do tratamento; assim, os fortes sentimentos mobilizados pelos sintomas da criança permanecem, muitas vezes, reprimidos, o que não os torna inócuos, mas pelo contrário, são fatores que atrapalham ou impedem a condução adequada do tratamento e favorecem o estresse ou até mesmo o adoecimento materno.

ASSUNTO(S)

adolescente decs saúde da família decs análise qualitativa decs dissertação da faculdade de medicina. ufmg constipação intestinal decs dissertações acadêmicas decs percepção decs criança decs constipação intestinal/prevenção &controle decs

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