Variação genética em Tayassu pecari (Link, 1795) e em Pecari tajacu (Linnaeus, 1758): uma contribuição para a conservação dessas espécies

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A família Tayassuidae, ordem Artiodactyla, ocorre exclusivamente no continente americano e possui, atualmente, apenas três espécies: Tayassu pecari, as queixadas, Pecari tajacu, os catetos e Catagonus wagneri, o taguá. A existência de uma quarta espécie na família, Pecari maximus, recentemente descrita, vem sendo discutida. As queixadas distribuem-se do sul do México ao norte da Argentina, enquanto os catetos possuem uma distribuição mais ampla, sendo encontrados desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. As duas espécies desempenham papel-chave nos ecossistemas, por fazerem parte da cadeia trófica e atuar como predadores e dispersores de sementes. São caçadas em diferentes intensidades ao longo de sua distribuição e também sofrem com a alteração, fragmentação e perda de habitats causados pela atuação humana em áreas naturais. Os microssatélites, sequências curtas e repetitivas, distribuemse uniformemente por todo o genoma, apresentam alto grau de polimorfismo, são codominantes e seletivamente neutros e, por isso, considerados como marcadores moleculares ideais para serem usados em estudos populacionais. O fato de a região flanqueadora dos microssatélites apresentarse extremamente conservada em algumas espécies relacionadas possibilita a utilização de marcadores microssatélites em espécies próximas àquelas para as quais foram descritos. Esse trabalho teve como objetivo descrever e caracterizar locos microssatélites para a espécie Tayassu pecari e testar sua aplicabilidade em estudos populacionais de Pecari tajacu. Para isso, foi construída uma biblioteca genômica parcial enriquecida. Tal metodologia baseia-se em três etapas principais: clivagem do DNA através de enzimas de restrição, hibridização dos fragmentos obtidos com sondas biotiniladas de sequência repetitiva e motif tetranucleotídico e recuperação magnética dos híbridos através da utilização de partículas magnéticas cobertas com streptavidina. Entre 192 colônias recombinantes que foram sequenciadas, foram obtidas 60 regiões repetitivas, tendo sido possível a construção de iniciadores para 19 delas. Dos iniciadores testados, 13 apresentaram um padrão satisfatório de amplificação em queixadas e 15 em catetos. Destes, dez foram polimórficos na população de queixadas analisada e 11 na de catetos. A variabilidade genética encontrada na população selvagem de queixadas estudada foi considerada moderada. Nessa população não foi encontrado desequilíbrio de ligação significativo e dois locos não se encontravam em Equilíbrio de Hardy-Weinberg, em virtude de um excesso de homozigotos, provocado pela presença de alelos nulos. A variabilidade genética encontrada na população cativa de catetos foi mais alta que a das queixadas, provavelmente por causa da origem diversa dos membros da população. Essa diferença também poderia ser explicada em função dos diferentes padrões de acasalamento das espécies: enquanto os bandos de queixadas parecem funcionar como unidades reprodutivas, a estrutura social mais flexível dos catetos, em vida livre, parece favorecer a maior diversidade genética nessa espécie, dessa forma, quando se estabelece uma popualação cativa, sua diversidade genética, que é um reflexo da diversidade total, também é maior. Foram encontrados mais indivíduos aparentados entre a população de queixadas do que na de catetos, o que pode ser uma conseqüência dos padrões reprodutivos das duas espécies. Os marcadores descritos aqui podem ser utilizados para estudos populacionais dessas duas espécies, que podem embasar futuros programas de manejo e conservação necessários para a manutenção das mesmas.

ASSUNTO(S)

genética animal tayassu pecari pecari tajacu microssatélites amplificação heteróloga conservacao das especies animais

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