Um estudo da arquitetura textual do gênero entrevista

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Investigou-se, neste trabalho, a arquitetura textual do gênero entrevista jornalística em duas revistas de circulação nacional: revista Veja seção Amarelas e revista Superinteressante seção Superpapo/Papo. A principal hipótese de trabalho foi a de que, embora o gênero entrevista seja uma atividade de linguagem altamente padronizada, que implica expectativas normativas específicas da parte dos interlocutores, possibilita, em sua arquitetura, maior heterogeneidade de seqüências textuais. Nesse sentido, a característica de estabilidade do gênero entrevista é determinada a partir das regularidades apresentadas no conteúdo temático, na construção composicional e no estilo; e a dimensão conteúdo temático pode ser investigada quando se parte dos estudos da organização seqüencial do texto. Para isso, foram identificadas as três dimensões constitutivas do gênero segundo as concepções bakhtinianas conteúdo temático, construção composicional e estilo. Em seguida, foi realizado o estudo da estrutura composicional do gênero entrevista com base na teoria das seqüências de Adam (1997) e no estatuto dialógico das seqüências de Bronckart (2003). Para o desenvolvimento da pesquisa, trabalhou-se com dois corpora: um corpus de análise do perfil dos entrevistados, correspondente a todas as entrevistas publicadas nos anos de 2004, 2005 e 2006; um corpus de análise, constituído de vinte entrevistas, sendo dez entrevistas de cada revista, nesses mesmos anos. Nesse corpus, as análises foram realizadas mediante as fases sucessivas da construção interna da entrevista: abertura; apresentação do entrevistado e assunto; desenvolvimento; e encerramento. A partir desses estudos, concluiu-se que, no plano de ação da linguagem, o gênero entrevista não pode ser compreendido, produzido sem referência aos elementos de sua situação de produção, de forma que se deve considerar os aspectos da interação e das condições sócio-históricas de produção. No plano do estilo, a investigação mostrou que entrevistador e entrevistado, ao proferirem os enunciados, são investidos de papéis sociais vinculados ao exercício dos rituais da imprensa jornalística e, assim, revelam o caráter midiatizado da enunciação. O estilo também revela o caráter dialógico e polifônico do enunciado, a inseparabilidade entre a análise do gênero de seus modos e redes de transmissão e do quadro social de sua produção e publicação. No plano da construção composicional, apesar de a entrevista se constituir de seqüências dialogais e apresentar um domínio de seqüências explicativas o que justifica o caráter estável do gênero em ambas as revistas, foi significativa a variedade de ocorrência de seqüências argumentativa, narrativa, descritiva que entrecruzam e constituem esse gênero. Em relação à identificação da seqüência dominante por fases da entrevista, os resultados foram ainda mais diferenciados, comprovando, assim a natureza composicional heterogênea da linguagem. As análises evidenciaram a relação direta entre o conteúdo temático e o modo de planificação do gênero, pois as seqüências se adaptam ao conteúdo dizível a fim de atender os propósitos dos produtores do texto. Apesar de as características descritas do gênero investigado serem determinadas a partir de regularidades apresentadas no conteúdo temático, construção composicional e estilo, o caráter cambiante dos gêneros permite que o gênero entrevista apresente suas singularidades na forma de organização do dito e nos meios lingüísticos que o operam para dizê-lo.

ASSUNTO(S)

entrevista jornalística estilo genre thematic content gênero construção composional linguistica journalistic interview style conteúdo temático lingüística aplicada composition construction

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