Transferência e temporalidade na clínica das psicoses

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A presente dissertação busca contornar interrogantes advindos de nossa experiência junto à clínica das psicoses - no marco de nossa inserção no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Clínica das Psicoses, da Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS. Esta conjuga distintas vivências, da escuta individual de pacientes ao envolvimento no trabalho de oficinas terapêuticas, as quais, ao longo do tempo, fizeram-nos questionar acerca das especificidades e impasses do laço transferencial aí colocado. A noção de temporalidade, desde a psicanálise, nos foi bastante cara no armado desta questão. Nos primeiros momentos de nosso texto, intentamos situar o terreno das principais elaborações de Freud e Lacan acerca da temática das psicoses, desde onde nossa questão sobre a transferência poderia alojar-se. Deste modo, fez-se preciso retomar dois dos principais casos clínicos freudianos, Schreber e o Homem dos Lobos, para melhor situar os entornos da contraindicação freudiana quanto ao trabalho analítico com pacientes psicóticos, bem como extrair consequências da colocação em relevo do mecanismo da Verwefung (foraclusão) para os desdobramentos subsequentes de Lacan. Abordaremos, a seguir, a guinada que a leitura lacaniana das referidas proposições faz apontar como possibilidade no trabalho junto às psicoses. Para trabalhar sobre os fragmentos clínicos que estiveram na base das interrogações propulsoras desta pesquisa, fez-se relevante traçarmos algumas considerações acerca da noção de escrita do caso em psicanálise. Desde então, arrolamos algumas destas narrativas da clínica onde, parece-nos, de distintos modos, contorna-se uma pergunta sobre a transferência em seu enlace com a temporalidade. Acolhemos uma hipótese, destarte, de que a constituição psicótica colocaria em cena uma espécie de abismo temporal, desde a não incidência de balizas simbólicas capazes de instituir um ritmo ¿ intervalo ¿ entre o campo do sujeito e o campo do Outro. Considerando a acepção de Lacan quanto ao registro inconsciente enquanto pulsátil, vislumbraríamos uma fratura no tempo de fechamento, desvelando o psicótico enquanto mártir deste inconsciente a céu aberto. Tais elaborações terão implicações cruciais às especificidades do armado transferencial, onde se colocaria em jogo a possibilidade de forjar-se um tempo, desde a presença do analista enquanto sustentadora de umaposição de vazio capaz de possibilitar ao sujeito algum estancamento no movimento infinitizado do significante, incessante promovedor do congelamento do sentido.

ASSUNTO(S)

psicose tempo : psicologia transferencia psychosis psicanálise transference temporality

Documentos Relacionados