Representações sociais de familiares de pessoas com diabetes mellitus sobre essa condição crônica

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo compreender as representações sociais dos familiares de pessoas com Diabetes Mellitus (DM) sobre essa condição crônica, fundamentado na teoria das representações sociais, proposta por Serge Moscovici (1961). Para chegar à compreensão das representações sociais utilizaram-se, como técnicas de coleta de dados, a evocação livre de palavras, com 100 participantes, dos quais, 22 responderam às entrevistas semi-estruturadas. A análise dos dados das entrevistas foi feita através da análise de conteúdo categorial-temática, que seguiu três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. A análise das evocações livres foi realizada com auxílio do software Ensemble de Programmes Permettant l# Analyse des Evocations (EVOC) e resultou no diagrama de quatro quadrantes, com a identificação do núcleo central e dos elementos periféricos da representação social. A partir dos dados das entrevistas, foram identificados os seguintes itens: o contexto dos familiares, a dimensão informação e conhecimentos e a dimensão comportamento ações dos familiares de pessoas com DM. O contexto dos familiares incluiu, na maioria dos casos, filhos, com elevado grau de proximidade, convivência diária, com participação na execução e orientação dos cuidados. Esse contexto propiciou o partilhar de vivências, das quais, marcaram mais as negativas, que trouxeram medo e sofrimento em decorrência de indicativos da gravidade da doença e do risco de morte. A dimensão informação procurou trazer a elaboração do que os participantes sabiam e sentiam com relação ao DM. A doença foi representada como: doença de cuidado; doença incurável que provoca alterações e complicações; e doença difícil que abala o emocional. O cuidado foi uma representação associada ao controle e à prevenção da doença, porém causador de sofrimentos e restrições. A doença incurável e suas complicações potencializaram esses sentimentos. A dimensão afetiva do DM foi representada por sentimentos negativos, surgindo a preocupação com o futuro e a hereditariedade da doença. A questão genética e a alimentação foram os elementos ligados ao DM como doença hereditária e como doença prevenível. No enfrentamento da doença, a realização dos cuidados foi destacada pela maioria dos participantes, o enfrentamento emocional e o não-cuidado também se manifestaram. As representações da doença se relacionam aos comportamentos e ações de cuidado para a prevenção do DM, como modos desejáveis de ações, permitindo dar sentido e justificar essas ações. Quando um comportamento parece estar em sentido oposto à representação identificada e ao comportamento esperado, podem estar em ativação outras representações com um sentido mais forte e presente naquele contexto e momento social. A partir da técnica de evocação livre, confirmei a centralidade do cuidado, da hereditariedade, da doença incurável que traz mudanças e a da tristeza como emoção negativa. Apenas a representação da prevenção não apareceu na evocação, ou ficou implícita no cuidado; os demais elementos apareceram nas entrevistas, demonstrando a importância da articulação entre essas duas técnicas, para a compreensão do dinamismo que envolve as representações sociais. Ambas as técnicas atuaram no sentido de se complementarem e possibilitarem uma aproximação mais efetiva da complexidade que envolve a elaboração do sentido do DM. A teoria das representações sociais, que guiou esta pesquisa, contribuiu para a apreensão dos mecanismos e processos pelos quais os familiares de pessoas com DM dão sentido à doença e como articulam e reproduzem essas representações cotidianamente. Busquei o reconhecimento do conhecimento produzido pelas pessoas no seu cotidiano do senso comum, como sendo fundamental para a compreensão dos sentidos atribuídos e das ações de saúde, assinalando a importância do convívio social para a construção dos sujeitos; pois tanto as representações sobre a doença influenciam suas escolhas e ações quanto as ações influenciam na elaboração das representações sociais. A utilização das representações sociais para a compreensão do sujeito e o desenvolvimento da educação em saúde é uma construção teórico-prática que visa ir além do biológico, sob a perspectiva de sujeitos de uma sociedade pensante, com sentimentos, vivências, que vão direcionar suas interpretações e atitudes. A temática do DM, ao incluir os familiares, sugere espaço para muitas pesquisas voltadas às ações/comportamentos e significados desse grupo social. No processo de compreensão das representações sociais dos filhos e netos das pessoas com DM, emergiram muitas representações negativas, mas foi destacada com grande importância a possibilidade de prevenção. Acredito que há um vasto caminho para ser trilhado, com pesquisas e práticas de educação em saúde, no sentido de elaboração de propostas educativas que respondam a essa necessidade de prevenção.

ASSUNTO(S)

representações sociais diabetes mellitus educação em saúde enfermagem enfermagem

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