Representações de pessoas com transtorno mental sobre as infecções sexualmente transmissíveis e o HIV/Aids

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Pessoas com transtornos mentais apresentam maior vulnerabilidade para infecções sexualmente transmissíveis - IST e o HIV/Aids, agravos, atualmente, de grande importância para saúde pública. A aproximação dos sujeitos às doenças permite a re/construção de representações sobre estas, expressas nas atitudes, palavras e ações nas relações com os outros. O objetivo deste estudo foi compreender representações de pessoas com transtorno mental acerca do HIV/Aids e das demais IST, comparando-as com as de outros grupos populacionais apresentadas na literatura. Para alcançar o objetivo proposto, utilizou-se a metodologia qualitativa, com a orientação teórico-metodológica da Teoria das Representações Sociais. A pesquisa foi realizada em dois hospitais psiquiátricos de Minas Gerais e dois Centros de Atenção Psicossocial, um em Minas Gerais e um no Rio de Janeiro. Foram entrevistadas 39 pessoas em acompanhamento nesses serviços, que se encontravam fora de crise e capazes de aceitar sua participação no estudo. As entrevistas foram individuais, com questões abertas e em profundidade. A análise foi fundamentada na Análise Estrutural de Narração. Os resultados foram organizados em três categorias: 1/Representações sobre as IST e o HIV/Aids; 2/Representações de transmissibilidade e prevenção das IST e do HIV/Aids; e 3/Representações sobre risco e educação preventiva para as IST e HIV/Aids. A interpretação dos dados revelou que as representações de IST são de doenças transmitidas sexualmente, perigosas, relacionadas à sujeira e que têm visibilidade pela maneira de andar da pessoa. Não se faz distinção entre a infecção pelo HIV e a aids, as mesmas representações das IST estão presentes para a aids, sendo considerada doença que mata, provoca vergonha, medo e leva ao preconceito. Para a prevenção, o preservativo é lembrado como importante, mas seu uso é quase inexistente, pois considera-se possível se prevenir não tendo relações sexuais com pessoas que não se conhece; que são bonitas demais e com mulheres da vida. Homens e mulheres consideram os primeiros mais atirados e mais irresponsáveis nos relacionamentos sexuais. Eles se acham espertos e invulneráveis, enquanto as mulheres que tiveram ou têm vida sexual ativa se percebem em risco de infecção pela baixa capacidade de negociação sobre o uso do preservativo. Em geral, as representações são semelhantes àquelas encontradas em outros grupos da população, mas a vulnerabilidade social e cultural de pessoas com transtorno mental é aumentada pelas situações específicas do quadro clínico; sentimento de invulnerabilidade diante da vida, em geral; ocorrências de abuso sexual; dificuldade de relacionamentos estáveis; sexo pago não seguro e pelo não uso de preservativos. Para acrescer a esses aspectos de vulnerabilidade social, o acesso à escola é baixo e os serviços de saúde mental não têm atividades de educação em saúde sexual como prática corrente, sendo as experiências de vida, os amigos e a televisão as principais fontes de construção de representações. A articulação entre políticas públicas, serviços sociais e de saúde, e seus profissionais para realização de ações de educação sexual e de acompanhamento, específicas para pessoas com transtornos mentais, além de proteção efetiva daqueles em situação de desamparo, definem-se como fundamentais para a integralidade da assistência.

ASSUNTO(S)

pessoas com deficiência mental/psicologia decs doenças sexualmente transmissíveis/prevenção &controle decs doenças sexualmente transmissíveis/psicologia decs síndrome de imunodeficiência adquirida/prevenção &controle decs síndrome de imunodeficiência adquirida/psicologia decs pesquisa qualitativa decs assistência em saúde mental decs humanos decs

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