Regulação da expressão da anexina A1 e sua ação modulatória em processos inflamatórios e infecciosos in vitro e in vivo

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

23/04/2012

RESUMO

Introdução: As respostas inflamatórias exacerbadas ou prolongadas podem ser prejudiciais para o hospedeiro, então muitos mediadores antiinflamatórios atuam para regular as propriedades dos fatores pró-inflamatórios e garantir a homeostasia dos sistemas. Objetivos: Assim, o foco do presente trabalho foi estudar a regulação da expressão e as propriedades imunomodulatórias da anexina A1, uma proteína de 37 KDa, inicialmente conhecida como a segunda mensageira da ação dos glicocorticóides, em processos inflamatórios e infecciosos. Metodologia: Para tanto, por meio de técnicas moleculares (qPCR), bioquímicas (luminometria) e imunológicas (citometria de fluxo, imunofluorescência), foi investigado o papel endógeno da ANXA1 e exógeno do peptídeo N-terminal da ANXA1 em diferentes condições in vitro e in vivo: infecção fúngica, infecção viral por HIV-1 e SIV, doença inflamatória intestinal e injúria isquêmica renal. Resultados: O peptídeo N-terminal da ANXA1, Ac2-26, quando usado como tratamento prévio de PMN e PBMC do sangue periférico humano estimuladas por zymosan-opsonizado, inibe a produção de espécies reativas de oxigênio de modo dose-dependente. Paralelamente, a incubação dos fagócitos com o peptídeo demonstrou diminuir a expressão do receptor TLR2, responsável pelo reconhecimento de zymosan nos fagócitos, sugerindo um mecanismo de regulação de receptores de superfície pelo Ac2-26. Frente a este dado e a sinalização de ANXA1 via FPRs, a expressão do receptor de quimiocina e coreceptor do vírus HIV-1, CCR5, também foi investigada em tais condições in vitro. Os transcritos de CCR5 diminuíram em PBMCs de indivíduos HIV+ e saudáveis, parcialmente pela via ANXA1/FPR. Consistentemente, Ac2-26 também diminuiu a expressão do CCR5 na superfície de células T CD4+, os principais alvos do vírus. Em contraste, nos monócitos o peptídeo aumentou a expressão de CCR5, no entanto, induziu uma mudança na distribuição dos subfenótipos, diminuindo a quantidade dos monócitos com maior susceptibilidade a infecção por HIV-1 (CD14lowCD16+). A investigação da ANXA1 endógena em um modelo não humano de AIDS, realizado pela infecção de macacos por SIV, mostrou que a expressão transcricional da ANXA1 é regulada durante a progressão da doença nos principais compartimentos de infecção, o sangue e o intestino. Em comparação com as amostras de animais não-infectados, os transcritos de ANXA1 aumentaram gradualmente no sangue periférico entre as fases aguda e crônica da infecção por SIV, enquanto que na mucosa intestinal houve uma regulação negativa, atingindo os níveis basais apenas na infecção crônica. A análise de marcadores típicos da progressão da AIDS mostrou que a expressão de ANXA1 está relacionada à ativação de células T. No entanto, a expressão da ANXA1 tem uma correlação positiva com o número de transcritos de citocinas antiinflamatórias e uma correlação negativa com a carga viral e depleção de células T CD4+ no sangue e no intestino, sugerindo que a ativação da sua transcrição está relacionada a tentativa de diminuir a exaustão imunológica durante a infecção. Frente aos dados da modulação diferencial da ANXA1 no intestino de primatas, o próximo objetivo foi analisar a expressão da ANXA1 nos portadores de IBD (doença inflamatória intestinal) tratados ou não com drogas imunossupressoras. Nos indivíduos com IBD, a expressão da ANXA1 é diminuída em nível de RNAm, no sangue periférico, e proteína, na mucosa colônica. Nestes pacientes, a imunoterapia com infliximab (anti-TNF-α) modulou sistemicamente a transcrição da ANXA1 e do TNF-α, e ainda a ativação linfocitária e a bacteremia. Em suma, a dinâmica da ANXA1 somada a outros elementos imunológicos e clínicos parecem estar associados a progressão do curso das IBDs. Finalmente, os processos inflamatórios agudo e crônico induzidos pelo procedimento de isquemia e reperfusão (I/R) revelou que o peptídeo mimético ANXA1 exógeno protegeu significativamente contra a lesão por I/R renal. Os animais pré-tratados com Ac2-26 mostraram menores taxas de filtração glomerular, osmolalidade urinária e desenvolvimento da necrose tubular aguda, possivelmente, por manter a integridade tecidual devido ao bloqueio total do extravasamento de neutrófilos, à atenuação de infiltração de macrófagos e à regulação da expressão protéica da ANXA1 endógena em células epiteliais renais. Estes resultados apontam um importante papel da ANXA1 na defesa das células epiteliais contra a lesão de I/R e indicam que os neutrófilos são mediadores-chave para o desenvolvimento da lesão do tecido renal após I/R. Conclusões: Em uma análise geral do conjunto de estudos apresentados, é possível concluir que a ANXA1 exógena e seus peptídeos derivados atuam como moléculas chave na modulação específica da ativação, imunofenótipo e distribuição dos fagócitos e linfócitos que participam como linha de defesa ou como alvo de agentes infecciosos, por meio da ligação com os FPRs ou por uma via ainda não elucidada. E, enfatizando a relevância da ANXA1 na defesa da homeostasia, ainda foi constatado que as vias relacionadas à regulação da ANXA1 endógena são ativadas diferencialmente em tecidos e fluidos sob inflamação aguda e crônica iniciadas quer seja por infecção viral, autoimunidade ou hipóxia.

ASSUNTO(S)

anexina a1 sangue mucosa aids ibd isquemia renal genetica inflamação infecção peptídeos blood renal ischemic injury

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