Recursos musicais aplicáveis à saúde da criança e do adolescente

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta tese apresenta uma investigação sobre sete recursos musicais encontrados em atividades musicais praticadas na sociedade ocidental, focalizando seu potencial como recurso terapêutico. Os sete recursos musicais, identificados por seus materiais e procedimentos, são os seguintes: jogos e brincadeiras musicais; apreciação musical; canto; instrumentos musicais; criação musical; expressão corporal e dança; e ensaio e apresentação musical. Foi feito um estudo exploratório-descritivo da aplicação destes recursos a crianças e adolescentes em atendimento terapêutico em diferentes ambientes de saúde. A construção dos dados baseou-se na observação sistemática do oferecimento dos sete recursos musicais a 54 crianças e adolescentes com idades entre 1 e 20 anos e com diferentes diagnósticos e diferentes capacidades psicomotoras, em atendimento em três espaços de saúde; e na entrevista aberta feita com seus cuidadores e técnicos, perguntando-lhes que alteração de comportamento eles percebiam em sua criança/adolescente a partir do contato com cada recurso musical. A variedade de idades e diagnósticos das crianças e adolescentes buscou estabelecer a acessibilidade e benefícios dos recursos musicais a pacientes com diferentes capacidades de resposta afetiva, motora e cognitiva. A variedade de espaços de saúde (consultórios de Musicoterapia da Associação de Musicoterapia de Minas Gerais, Sala de Medicação Infantil do Hospital Borges da Costa e Setor de Terapia Ocupacional do Hospital Bias Fortes) visou conhecer formas de oferecimento das práticas musicais em diferentes ambientes terapêuticos sem comprometer a dinâmica própria de cada um deles. O resultado desta tese é um mapeamento dos recursos musicais aplicáveis à saúde de crianças e adolescentes, apresentando suas especificidades, atividades possíveis de serem desenvolvidas, e benefícios resultantes de sua aplicação terapêutica, em consonância com os pressupostos das teorias da Musicoterapia. Por ser parte da cultura humana e estar ligada a atividades prazerosas e significativas, a música é familiar à criança/adolescente, que já faz uso dela, adaptando-a às suas capacidades psicomotoras, mesmo prejudicadas pela doença. Nesta pesquisa, ela é aceita a priori pela criança/adolescente e por seu cuidador. Apresentando-se no imaginário destes como uma chance de melhorar o ambiente de saúde, ela insere-se facilmente em suas rotinas. Por sua diversidade de formas, a música é acessível a crianças/adolescentes com comprometimentos de saúde diversos, se adequa às suas condições físicas e mentais, lhes oferece experiências de sucesso e lhes estimula desenvolvimento psicomotor. Seduzindo cuidadores e técnicos, a música cria uma rede prazerosa de participação que enriquece o ambiente de saúde e estimula a criança/adolescente a dedicar-se ao seu processo de saúde. A observação sistemática dos recursos musicais em sua aplicação ao processo de saúde de crianças e adolescentes mostra que a especificidade de cada um deles tem muito a oferecer aos pacientes. Os jogos e brincadeiras musicais tiram as crianças/adolescentes da letargia, tornam-nas alertas e participativas, e lhes oferecem conhecimentos e o compartilhamento de momentos prazerosos com o outro. A apreciação musical lhes dá acesso à expressão de diferentes tempos, espaços e visões de mundo, e à evocação e reelaboração de suas próprias vivências, emoções e fantasias. O poder narrativo e mnemônico do canto lhes ajuda a seguir seqüências complexas e memorizar informações, lhes propicia o aprimoramento da fala e a adoção de uma linguagem expressiva, lhes ajuda a afirmar sua individualidade acima da doença. O efeito tônico dos instrumentos musicais impulsiona as crianças/adolescentes ao movimento organizado, à construção elaborada e à participação prazerosa em conjuntos instrumentais. A criação musical lhes faculta a construção de uma identidade positiva, o afloramento de uma criatividade inesperada em meio a suas dificuldades psicomotoras, e uma via adequada e valorizada de expressão de seus sentimentos e idéias. A dança os leva a enriquecer sua imagem corporal e a aprimorar suas habilidades ambulatórias. Os ensaios e apresentações musicais lhes possibilitam apresentar-se diante do outro de forma positiva, mostrando sua força, sua alegria e suas capacidades. Tendo como sujeitos crianças e adolescentes sem autonomia, muito dependentes de seu cuidador e em alguns aspectos parecendo formar uma unidade com ele, esta investigação teve sua atenção chamada para o intenso grau de adesão do cuidador às práticas musicais, tanto para melhor direcioná-las à sua criança/adolescente, como para deleite próprio. Isto é extremamente importante quando se sabe que a adesão do cuidador ao tratamento da criança/adolescente sem autonomia é determinante de seu sucesso. Atuando em conjunto com técnicos de outras áreas da saúde, esta pesquisa notou também o envolvimento do técnico não-musicista, adotando rapidamente o oferecimento dos recursos musicais ao seu paciente, e fazendo música como fruição pessoal. Isto mostra a possibilidade de que também ele, sujeito ao trabalho estressante em ambientes pautados pela doença, use os recursos musicais em benefício próprio e se sinta seguro em explorá-los em seu trabalho. Embora a presença de um musicoterapeuta coordenando o oferecimento das atividades musicais no ambiente de saúde garanta maior riqueza musical e melhor direcionamento dos recursos musicais aos objetivos de saúde de cada paciente, como a música é uma prática comum à maioria das pessoas, e é acessível a não-musicistas, as atividades musicais mostraram-se possíveis de desenvolver-se entre pacientes, cuidadores e técnicos, dentro de suas possibilidades, com práticas musicais acessíveis aos seus conhecimentos, sugeridas por eles e valorizando suas histórias de vida, resultando em ganhos para todos.

ASSUNTO(S)

criança decs musicoterapia decs dissertações acadêmicas decs dissertação da faculdade de medicina. ufmg adolescente decs pediatria teses.

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