Práticas discursivas sobre sexualidade e religião de mulheres e homens com diagnóstico de esquizofrenia

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

201107

RESUMO

Na contemporaneidade, a despeito de todas as mudanças ocorridas na assistência em saúde mental nas últimas décadas, observa-se que as pessoas diagnosticadas como esquizofrênicas são estigmatizadas com rótulos patologizantes e excludentes. A religiosidade e a sexualidade são esferas significativas da experiência humana, e nas práticas discursivas de pessoas em sofrimento psíquico ocupam um lugar de destaque mobilizando, geralmente, profissionais e familiares de maneira negativa. Tendo como referencial teórico-metodológico os Estudos Críticos do Discurso entrevistei sete usuários/as, cinco mulheres e dois homens, de um centro de atenção psicossocial, CAPS, localizado na cidade de Recife/Pe, com o objetivo de conhecer as práticas discursivas dos/as participantes sobre os temas sexualidade e religiosidade, suas articulações e possíveis diferenças nos discursos das mulheres e homens sobre essa temática. Nas entrevistas de grupo, a discussão acerca dos temas foi gerada a partir de palavras- estímulo, relacionadas à sexualidade e religiosidade. Nos Estudos Críticos do Discurso, aporte analítico do material produzido nas entrevistas, o posicionamento da/o pesquisador/a é explícito em relação ao abuso de poder sofrido pelos sujeitos da pesquisa, aqui compreendido no sentido de intervir para favorecer a emergência de práticas discursivas alternativas aos discursos hegemônicos de normalidade. Numa perspectiva Queer, é possível interpretar nas falas dos sujeitos a desconstrução de valores tidos como naturalizados em relação ao sexo, ao gênero, à normalidade e à doença mental. Verificou-se um forte apelo e penetração das religiões de tradição cristã modelando as práticas discursivas sobre a sexualidade, mesmo para aquelas/es que alegaram não possuir uma prática religiosa. Tal fato não é exclusividade das pessoas com diagnóstico de esquizofrenia e, segundo a literatura especializada, se estende à maior parte da população brasileira, onde o discurso cristão tem forte ascendência. Os homens entrevistados têm uma prática religiosa mais dependente da instituição do que as mulheres, a religiosidade sendo para elas uma vivência mais pessoal. A violência contra a mulher é presente, todavia a mulher esquizofrênica, numa mirada interseccional, está mais vulnerável a este tipo de agressão. O estudo permite concluir que as práticas discursivas das/os entrevistadas/os são potencialmente emancipatórias, pois produzem contra-discursos capazes de desconstruir e negociar com instâncias hegemônicas, como a religião e o modelo biomédico, propondo a ressignificação das suas posições identitárias na sociedade.

ASSUNTO(S)

religiosidade sexualidade esquizofrenia estudos críticos do discurso teologia critical discourse studies schizophrenia sexuality religion

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