Perfil neuropsicológico de adolescentes com transtornos de ansiedade

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Objetivo: Os transtornos de ansiedade estão entre os mais prevalentes na infância e adolescência, estão associados a um prejuízo no desempenho social e a possíveis déficits cognitivos que levariam a um baixo rendimento escolar. Porém ainda são inconsistentes os achados nesta área, tornando-se necessários estudos que investiguem o perfil neuropsicológico desses pacientes. O presente estudo tem como objetivo avaliar o perfil neuropsicológico de adolescentes com diagnóstico de transtornos de ansiedade (transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ansiedade social e transtorno do pânico) e compará-los com controles. Métodos: Nossa amostra origina-se de um estudo transversal com uma amostra comunitária de adolescentes, de idade entre 10 a 17 anos, provenientes de seis escolas públicas pertencentes à área de captação da Unidade Básica de Saúde do HCPA. Dentre os 68 participantes, 41 tinham diagnóstico de transtorno de ansiedade e 27 controles sem ansiedade, avaliados segundo os critérios do DSM-IV, através da ¿Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia for School-Age Children-Present and Lifetime Version¿ (K-SADS-PL). Todos os adolescentes participaram de 3 sessões de avaliação neuropsicológica em suas escolas, com uma extensa bateria referente às seguintes funções cognitivas: atenção, memória de trabalho, memória verbal semântico-episódica, praxia visuoconstrutiva, funções executivas, processamento emocional e inteligência. Resultados: Não foram encontradas diferenças significativas nos testes neuropsicológicos que avaliavam as seguintes funções: atenção, memória verbal semântico-episódica, praxia visuoconstrutiva, funções executivas e inteligência. Entretanto, os adolescentes com ansiedade leve apresentaram um melhor desempenho no teste Span Verbal de Dígitos ordem inversa, utilizado na avaliação de memória de trabalho, em comparação aos sujeitos com ansiedade grave e aos controles, que não diferiram entre si (EMM = 2,3 [0,10 EP] vs. EMM = 2,1 [0,16 EP] vs. EMM = 1,9 [0,11 EP], respectivamente; p = 0,032). Foi encontrada associação entre os adolescentes com transtorno de ansiedade e um prejuízo no reconhecimento de faces de raiva (M= 3,1 + 1,13 DP vs. M= 2,5 + 1,12 DP; RC= 1,72; IC95% [1,02; 2,89]; p= 0,040). Por outro lado, os adolescentes com ansiedade apresentaram uma maior habilidade em nomear as faces neutras em comparação aos controles, 85% dos casos vs. 62,9% dos controles não cometeram nenhum erro ao nomear as faces neutras (RC= 3,46; IC95% [1,02; 11,74]; p=0,047). Não foram encontradas diferenças significativas nas outras emoções (felicidade, tristeza, nojo, surpresa, medo) da tarefa de reconhecimento facial. Conclusão: Embora os transtornos de ansiedade pareçam não prejudicar as principais funções cognitivas na adolescência, a ansiedade quando leve pode influenciar alguns processos na memória de trabalho. Nosso estudo econtrou diferenças significativas no reconhecimento facial entre adolescentes ansiosos e não ansiosos, apoiando modelos cognitivos atuais que demonstram a influência da ansiedade na detecção e/ou processamento de emoções. Nossos achados contribuem para a escassa literatura na área de ansiedade e neuropsicologia, realizado em uma amostra de origem comunitária, com uma avaliação diagnóstica psiquiátrica completa e extensa bateria de testes, possibilitando a avaliação de várias funções neuropsicológicas.

ASSUNTO(S)

transtornos de ansiedade neuropsicologia adolescente

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