Percepção de agricultores e a agrobiodiversidade em quintais no Rio Grande do Sul : expressões da luta por autonomia camponesa

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Na trajetória da industrialização da agricultura, a partir de meados da década de 1960 no Brasil, os pequenos agricultores vêm sendo pressionados para aderirem às novas tecnologias e homogeneizar a prática agrícola segundo a necessidade da produção capitalista. A produção em larga escala tem deposto sobre sua insustentabilidade ambiental, social, econômica expondo a população rural a situações de vulnerabilidade que colocam em risco a soberania alimentar e a própria biodiversidade agrícola, uma vez que nos alimentamos de um número cada vez mais reduzido de espécies. Assim, o pequeno agricultor, com o seu modo camponês de fazer agricultura, resiste no espaço de produção buscando a sua crescente autonomia e do seu espaço sócio-produtivo, retroalimentando a base de recursos sociais e naturais, fundamentado no referencial desta pesquisa. O conhecimento que o agricultor adquire na interação com o ambiente no qual está o faz detentor de práticas específicas de acordo com o seu contexto, porém com estratégias comuns para a luta por autonomia. Nesta perspectiva, os quintais, como o espaço ao redor da casa com uma área não muito superior a um hectare e manejados com técnica simples, são agroecossistemas que incluem espécies alimentícias entre árvores, arbustos e produtos da horta, com criação de animais. Este lugar manejado com pouca ou nenhuma utilização de agroquímicos contribui com a segurança alimentar e nutricional das famílias e com a manutenção dos modos e meios de vida, além de incrementar a biodiversidade. Os saberes e práticas dos agricultores resultam na agrobiodiversidade que retroalimenta o agroecossitema do quintal, no qual expressam a luta constante por autonomia com diferentes ênfases. Integrando as noções de ¿ator¿ e ¿agência¿, apresentadas pela Perspectiva Orientada ao Ator, consideramos que, através da prática cotidiana, os atores ampliam suas capacidades de ação e influenciam os processos de mudança social, materializando a condição camponesa através do modo camponês de fazer agricultura, demonstrando as possibilidades para um desenvolvimento rural sustentável. O arcabouço teórico define, ainda, a agrobiodiversidade e a percepção, com ênfase na construção do lugar, objetivando evidenciar as percepções dos atores sobre o seu quintal e a influência na agrobiodiversidade, bem como as funções sociais, econômicas e ambientais que surgem através da interação do agricultor com o lugar que cultiva e maneja, considerando o quintal como um espaço de expressão da luta por autonomia camponesa. Usando a observação participante como metodologia de pesquisa qualitativa, foram gravadas nove entrevistas semi-estruturadas com agricultores que manejam quintais, incluindo registros fotográficos e anotações em diário de campo em seis propriedades durante o ano de 2010. A análise do conteúdo das entrevistas resultou em 2 grupos perceptivos, 15 descritores de funções e 335 variedades de plantas citadas com, pelo menos, 17 usos diferentes. Nestas áreas, os atores apreendem os conhecimentos e os praticam, o que proporciona ao agricultor a segurança no lugar que constrói na medida em que se distancia da dependência externa e fortalece as capacidades internas, através da co-produção que retroalimenta a base de recursos, seja da unidade familiar, da comunidade local ou de uma região.

ASSUNTO(S)

rio grande do sul biodiversidade agroecology agroecologia agrobiodiversity perception agricultura familiar camponeses backyard peasant autonomy

Documentos Relacionados