Ocupações e mortalidade na Marinha do Brasil.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

Nas Forças Armadas brasileiras, com parcela significativa de trabalhadores, o estado de saúde sempre foi prioridade. Todavia, pouco se conhece sobre a epidemiologia das doenças entre militares. Neste estudo são investigados fatores ocupacionais que contribuíram para o aumento das estimativas de mortalidade na Marinha para categorias específicas de doenças. Os dados deste estudo contemplam informações de militares da Marinha do Brasil ativos e inativos, falecidos de 1991 a 1995. Conformam três sub-estudos de mortalidade para investigar fatores ocupacionais associados com 3.563 óbitos. Um estudo trata da mortalidade por causas de morte de acordo com a CID 9a. Rev., incluindo as doenças do aparelho digestivo (CID 9o 520-579); aparelho geniturinário (CID 9o 580-629) e sistema nervoso (CID 9o 320-389), no qual encontrou-se maior mortalidade proporcional para as doenças do fígado relacionadas com o consumo do álcool (RMPajust=2,03; 95% IC: 1,26 3,00), pancreatite (RMPajust=2,03; 95% IC: 1,06 3,38), hemorragia digestiva (RMPajust=1,61; 95%IC: 1,10 2,23), doenças renais crônicas (RMPajust=2,82; 95% IC: 1,98 3,84), doença de Parkinson (RMPajust=3,00; 95% IC: 1,27 5,72) e degenerações cerebrais (RMPajust=2,88; 95% IC: 1,14 5,70). Foram observadas associações entre ocupação de operador de radar e doenças do sistema nervoso (RMP=6,50; 95% IC: 1,43 29,56) e telegrafistas (RMP=2,94; 95% IC: 0,80 10,80). O outro estudo sobre a mortalidade específica por AIDS (CID 9o 279.1) mostrou uma estimativa de mortalidade proporcional por AIDS de 4,8%, elevando-se no período, especialmente nas idades de 20-49 anos e entre soldados, marinheiros e cabos. Fatores associados com a AIDS foram estar na faixa etária de 20-49 anos (ORajust=10,84; IC 95%: 6,67 17,62), não ser casado (ORajust=4,17; IC 95%: 2,78 6,26), ser de baixo nível hierárquico (ORajust=1,66; 95% IC: 1,05 2,64). As ocupações de "secretariado e serviços contábeis" (ORajust=2,41; 95% IC: 1,17 4,96), músicos (ORajust=8,09; IC 95%: 1,03 63,63) e "arrumador" (ORajust=2,72; IC 95%: 1,12 6,60) se associaram com as mortes por AIDS entre militares de baixo nível hierárquico em relação aos demais. No terceiro estudo testou-se a hipótese de que grupos ocupacionais das "ciências navais e administração" e "comunicação e eletroeletrônica" eram fatores de risco para canceres de cólon e reto (CCR). Observou-se associação entre ocupações do grupo "ciências navais e administração" e CCR (ORbruta=2,67; 90% IC: 1,51 4,74) e do grupo "comunicação e eletro-eletrônica" (ORbruta=1,95; 90% IC: 1,02 3,74). No detalhamento das ocupações, "Oficiais da Armada" (ORbruta=3,76; 90% IC: 1,75 6,84) e "sinaleiros e técnicos em comunicação" (ORbruta=7,21; 90% IC: 2,56 20,31) foram ocupações com associações positivas. A magnitude da associação entre ocupações e o CCR foi maior entre militares com até 20 anos de serviço no grupo "comunicação e eletro-eletrônica" (ORbruta=7,20; 90% IC: 1,68 30,79) e ocupação "Oficiais da Armada" (ORbruta=20,00; 90% IC: 3,15 126,97) comparados com os de maior tempo de serviço. Os resultados destes estudos indicam a existência de possíveis riscos ocupacionais no ambiente de trabalho da Marinha do Brasil, e sugerem a necessidade de investigações mais detalhadas que incluam mensurações das exposições no ambiente de trabalho, e especialmente, incluir os aspectos comportamentais e do estilo de vida.

ASSUNTO(S)

mortalidade saude coletiva militares

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