O lugar do gênero na psicanálise: da metapsicologia às novas formas de subjetivação

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A dissertação se propõe a formular um conceito psicanalítico de gênero, a partir do estudo das formulações de diversos autores (como Jean Laplanche, Paulo de Carvalho Ribeiro, Jacques André; Robert Stoller; Judith Butler; Donna Haraway) que se aproximam desse objeto de estudo. Para tal, inicialmente traçaremos uma história selecionada das teorias psicanalíticas que trataram do conceito de gênero, mostrando sua origem e sua evolução. O critério para o estabelecimento recorte teórico utilizado será a primazia da alteridade: privilegiaremos os autores que estudam o gênero a partir de sua dimensão intersubjetiva e como o produto da ação do outro sobre o psiquismo. Tal encaminhamento nos levará a explorar a relação entre alteridade, feminilidade e recalque. Em seguida, analisaremos criticamente a relação entre feminilidade, passividade e masoquismo. Buscaremos entender como as teorias psicanalíticas que tratam a feminilidade como negatividade baseiam-se, inadvertidamente, em categorias metafísicas e naturalizadas, nas quais a lógica fálica confere à feminilidade o estatuto de falta ligada à castração e de inexistência. Proporemos, assim, uma positivação da feminilidade que se fará a partir da utilização de alguns elementos dos pensamentos de Nietzsche e Deleuze. No entanto, a partir de uma interlocução com a teoria feminista, mostraremos como qualquer essencialização da feminilidade é problemática, sendo mais interessante deixar o conceito em estado de permanente abertura. Serão discutidas, então, as possibilidades de superar os dualismos do sistema de sexo-gênero por meio da transgressão das hierarquias impostas por esse sistema. Após esse percurso, a relação entre feminilidade, passividade e masoquismo aparecerá como um fundamento contingente na busca de uma compreensão teórica do gênero. Em um terceiro momento, proporemos um conceito psicanalítico de gênero, em sua relação com o sexo, a identificação e o conflito psíquico. Tal conceito será trabalhado por uma dupla via: de um lado, formularemos as suas articulações metapsicológicas, nas quais o gênero aparecerá como conceito fundamental da teoria psicanalítica; de outro, trabalharemos as vicissitudes que a identidade de gênero pode assumir na masculinidade e na feminilidade. Tal trajeto nos levará a propor o que denominaremos devir-mulher como uma virtualidade responsável pelo surgimento de novas formas de subjetivação mais livres e permeáveis, tanto femininas quanto masculinas. A seguir, como forma de exemplificar os desafios que se impõem à teoria ao se defrontar com subjetividades que aparentemente contrariam a norma fálica, analisaremos a transexualidade, buscando mostrar como o diagnóstico de psicose frequentemente atribuído a essa condição é herdeiro de um enrijecimento teórico pautado na essencialização da lógica fálica. Situaremos, ao contrário, a transexualidade como avesso da psicose, buscando não desvincular algumas manifestações estereotipadas desta condição da normatividade social na qual ela se insere. Ao fim desse percurso, situaremos o gênero em uma posição central entre os conceitos da psicanálise, mostrando seu papel e sua importância na constituição psíquica em geral e no surgimento de novas formas de subjetivação.

ASSUNTO(S)

psicologia teses. psicanálise teses. feminilidade teses. masculinidade teses. identificação (psicologia) teses. metapsicologia teses.

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