O discurso do especialista sobre o lugar dos pais na clÃnica do autismo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar o discurso do âespecialistaâ sobre o lugar dos pais na clÃnica do autismo, enfocando a etiologia e o tratamento. Durante dÃcadas as prÃticas discursivas construÃdas sobre o lugar dos pais foram circunscritas e definidas em torno de um debate dicotÃmico a respeito da prÃpria gÃnese do autismo, impulsionado pelo psiquiatra Leo Kanner, quando da publicaÃÃo de seu artigo inicial de 1943, intitulado âDistÃrbios autÃsticos de contato afetivoâ. De um lado, encontra-se a psicogÃnese, que apoiada pelo discurso da psicanÃlise, atribui uma causa de origem psÃquica ao problema, o que por muito tempo colocou os pais num lugar de responsabilizaÃÃo culpabilizante frente ao sofrimento do filho; de outro lado, a organogÃnese que, uma vez apoiada pelo discurso mÃdico/biolÃgico, atribui uma causa de origem orgÃnica ao autismo, isentando os pais de qualquer tipo de responsabilizaÃÃo frente ao sofrimento do filho. Foram aqui analisados os âdepoimentosâ de quatorze profissionais que compÃem a equipe do CPPL â instituiÃÃo psicanalÃtica do Recife que hà vinte e cinco anos trabalha com questÃes ligadas ao desenvolvimento de crianÃas e jovens em sofrimento psÃquico, dentre as quais, aquela que convencionou-se denominar de âautismoâ. Apoiados em teorizaÃÃes do psicanalista Donald Winnicott (1997a) a respeito do âequivocadoâ conceito e diagnÃstico de âautismoâ, estes profissionais, a partir das prÃticas clÃnicas por eles desenvolvidas, passaram a assumir (CAVALCANTI; ROCHA, P.S., 2001) um posicionamento crÃtico que desconstrÃi tal conceito diagnÃstico, dado os efeitos iatrogÃnicos que o mesmo ocasiona no tratamento e na prÃpria relaÃÃo pais-filhos. Assim, investigou-se quais os efeitos de sentido produzidos em suas prÃticas discursivas, entendidas como formas de aÃÃo, a respeito do lugar de responsabilidade posto sobre os pais, ao assumirem tal posicionamento crÃtico e inovador frente ao diagnÃstico de autismo. Os corpora foram descritos, analisados e interpretados à luz dos pressupostos teÃrico-metodolÃgicos da Filosofia da Linguagem do CÃrculo de Bakhtin (2003; 2004; entre outros); da AnÃlise do Discurso Francesa (MAINGUENEAU, 2005) e do MÃtodo de AnÃlise Lexical, Textual e Discursivo de Camlong (1996). Os resultados sugerem que, tais profissionais dialogam e reafirmam em seus discursos, construÃÃes de sentido que remetam ao carÃter mutÃvel e adjetivo de âestarâ em sofrimento psÃquico, desconstruindo, de modo compartilhado, sentidos que apontem para a fixidez e imutabilidade que o conceito de autismo impÃe aos indivÃduos assim descritos. Podemos concluir que, uma vez abandonado e desconstruÃdo os prÃ-conceitos teÃricos que falam das âimpossibilidadesâ que tal âcategoria identitÃriaâ impÃe a tais indivÃduos, abre-se um leque de âpossibilidadesâ e de novas construÃÃes de sentido que permitem que tais sujeitos possam voltar a ser definidos dentro da dimensÃo subjetivante de âseres humanosâ. Um movimento discursivo de transformaÃÃo plural, descrito pela presenÃa da memÃria discursiva de âoutrosâ, no interior de tais prÃticas, devolveu aos pais, agora colocados na posiÃÃo de implicados no sofrimento do filho, a capacidade de cuidar, construindo, assim, novas, mÃltiplas e heterogÃneas formas de redescriÃÃo, resituando-os, de um lugar de responsabilidade pela via da culpa, em um lugar de responsabilidade pela via do cuidado

ASSUNTO(S)

autismo padres autismo discurso linguistica pais discurso

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