Natureza e responsabilidade: Hans Jonas e a biologização do ser moral

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

15/06/2012

RESUMO

O desafio da filosofia de Hans Jonas foi pensar uma ética para a civilização tecnológica. Ao identificar que a técnica moderna deixou de ser uma vocação e um instrumento para tornar-se um poder, um movimento de caráter autônomo e ambivalente, comprometendo a continuidade da vida humana e extra-humana no futuro, Jonas buscou na ética o antídoto para proteger a vida desse afã de desenvolvimento da civilização tecnológica. As bases dessa euforia pelo progresso e pelo melhoramento promovido por esse ideal, Jonas identifica-as no projeto baconiano de salvação da humanidade através do progresso científico. No entanto, para o autor, junto com a demonstração das possíveis bênçãos, estão contidas também as ameaças, mas estas, por sua vez, são invisíveis, pois, apresentam-se unicamente as vantagens e os benefícios. Desse modo, afirma o filósofo, o perigo não está na incapacidade humana, no sentido de sua incapacidade de realização, mas na sua excessiva capacidade, aliada ao domínio do homo faber sobre o homo sapiens. Frente a esse novo cenário da civilização tecnológica, as éticas tradicionais, para Jonas, tornaram-se insuficientes, pois sua preocupação estava voltada para orientar a vida do homem no aqui e agora. A necessidade de proteger a autenticidade da vida no futuro desse poder da técnica moderna exige um alargamento da esfera ética para além da perspectiva antropocêntrica e do tempo imediato. No entanto, essa ampliação do universo ético não pretende ser um retrocesso ou mesmo um impedimento ao desenvolvimento do progresso técnico científico. Busca-se um Ethos para a técnica, isto é, um poder sobre o poder, para impedir que suas ações continuem sendo niilistas, alicerçadas na força do poder de Prometeu que se encontra desacorrentado. Trata-se, portanto, de colocar um freio voluntário, antes que esse limite não tenha que ser imposto devido à vulnerabilidade da natureza e do homem, que se revelam sempre como dano. As bases para esse novo Ethos Jonas irá buscá-las em uma filosofia da biologia ou uma filosofia da vida. Com isso, o autor não pretende promover uma moralização da natureza, mas uma biologização do ser moral, visto que a responsabilidade no homem é ontológica. Ao reinserir o homem no conjunto da natureza e ressignificar categorias como a vida, a liberdade, o espírito, o metabolismo, entre outras, Jonas constata que a ética já está presente nessas categorias de modo ontológico na medida em que a vida diz um sim a ela mesma no sentido da continuidade, e um não ao não-ser. Sendo assim, a responsabilidade se impõe como um mandamento ético e um dever ontológico, o que faz com que ela não represente um cálculo ex post facto, mas o reconhecimento do Ser que reivindica que meu agir reconheça o bem nele intrínseco. Ao estabelecer como primeiro mandamento da ética da responsabilidade a continuidade da vida humana e extra-humana autêntica no futuro, e que a responsabilidade para tanto é proporcional ao nosso poder, o autor utiliza-se do modelo da responsabilidade paterna, do cuidado dos pais em relação ao recém-nascido, como protótipo para a ética da responsabilidade no futuro. Trata-se de algo em que não há reciprocidade, mas que a sua existência exige o dever do cuidado e da preservação. O destaque dado por Jonas à heurística do temor, como método para combater o desejo de progresso a qualquer custo, alicerçado no princípio in dubio pro malo, torna a prudência, a cautela, a precaução os novos valores éticos do homem na civilização tecnológica.

ASSUNTO(S)

filosofia natureza responsabilidade ontologia tecnologia e civilização biologização do ser moral filosofia nature responsibility ontology technological civilization biologization of the moral being

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