"Lugares de (não) ver?" : as representações sociais da violência contra a mulher na atenção básica de saúde

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Este estudo aborda as representações sociais da violência contra a mulher (VCM) de profissionais da saúde e usuárias da Atenção Básica de Saúde. O objetivo geral foi conhecer e analisar as representações, considerando os atendimentos nos serviços na região Partenon/Lomba do Pinheiro, no município de Porto Alegre. Tratase de um estudo qualitativo que analisa e confronta dimensões da violência, na perspectiva teorico-metodológica das Representações Sociais. Os participantes da pesquisa foram 40 profissionais de saúde e 122 mulheres usuárias dos serviços da região do estudo. A geração dos dados foi realizada por meio de instrumentos com questões-estímulo de evocações e entrevista semiestruturada. Na análise utilizaramse softwares: Epi info versão 3.5.1; o Ensemble de programmes permettant l’analyse des évocations – EVOC; Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte – ALCESTE; NVIVO para a categorização do conteúdo das entrevistas, na perspectiva dimensional de Serge Moscovici. As representações das usuárias são ancoradas em elementos da violência de gênero. O serviço de saúde só foi lembrado como espaço para “tratar as lesões físicas”. As evocações dos profissionais culpabilizam a mulher por ser dependente e submissa, e o ciúme e o uso de drogas como desencadeantes do ato violento, associado a elementos que qualificam os homens como covardia e machismo. Identificou-se que as enfermeiras destacam na mulher a desvalorização, submissão, associados ao medo. Para o grupo dos médicos, a falta de resolutividade está associada a questões sociais e dificultam a resolução do problema. A dimensão campo de representação foi constituída por elementos que qualificam a mulher com autoestima baixa, submissão e dependência, e o agressor, representado como “homem doente”, e, principalmente, pelo “estranhamento” em atender esses agravos na demanda dos serviços de saúde da ABS, configurando-se em “um não lugar”. A dimensão informação é traduzida pela naturalização da VCM como expressão das dificuldades individuais e coletivas. A dimensão atitude foi expressa nas queixas difusas das mulheres, que “não falam claramente” da situação de violência, no estabelecimento do vínculo “dependente” da vontade da mulher, na fragmentação das práticas que representam o descompromisso com o problema, mas, também, uma estratégia “para lidar com ele”, no trabalho em equipe, principalmente, como suporte para o profissional, pelo encaminhamento para “outros” serviços, também como alternativa de “não envolvimento”. Por fim, as representações sociais da VCM, na perspectiva de profissionais de saúde e usuárias, apontam elementos que permitem o entendimento da complexidade que envolve os serviços, as redes de proteção e as redes sociais. Atestam a fragilidade dos “modelos” formativos e assistenciais e os limites da clínica para fazer frente a esses eventos, desvendando o que se chamou de “insuficiência diagnóstica”. Nesse sentido, podem auxiliar na compreensão e na legitimação de ações e responsabilização de instituições e profissionais de saúde, promovendo a atenção integral, na perspectiva dos princípios do SUS e da preservação da vida.

ASSUNTO(S)

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