História natural de Aulacothrips (THYSANOPTERA: HETEROTHRIPIDAE) e os efeitos do ectoparasitismo em cigarrinhas trofobiontes (HEMIPTERA: AUCHENORRHYNCHA)

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2012

RESUMO

O registro do hábito ectoparasita em Thysanoptera estava limitado a Aulacothrips dictyotus (Heterothripidae). Esta espécie foi previamente registrada infestando ninfas e adultos de Aetalion reticulatum (Hemiptera: Aetalionidae), e acreditava-se que essa fosse uma associação única entre os tisanópteros. Entretanto, em recentes observações em áreas de Cerrado e floresta Amazônica, duas novas espécies de Aulacothrips foram encontradas, Aulacothrips minor e Aulacothrips amazonicus, respectivamente. Estes novos táxons apresentam histórias de vida distintas de Au. dictyotus e infestam diferentes hospedeiros. Ao mesmo tempo que não se conhecia a gama de hospedeiros destes tisanópteros, nada se sabia sobre a real interação deste tripes com as cigarrinhas e quais os efeitos da presença destes insetos para os Hemiptera. Nossos resultados indicam que Au. minor infesta várias espécies de Membracidae (Hemiptera), principalmente Guayaquila xiphias em áreas de Cerrado, enquanto que Au. amazonicus foi observada infestando cigarrinhas do gênero Ramedia (Membracidae) no Estado do Pará. Já Au. dictyotus ataca apenas Ae. reticulatum, uma cigarrinha de importância agrícola que possui uma ampla distribuição na América do Sul. Todas as espécies de Aulacothrips foram observadas sempre em hemípteros de hábito gregário atendidos por formigas, mas estas não molestam esses Thysanoptera. Estes tripes depositam seus ovos na planta, próximo à agregação de cigarrinhas. Este processo facilita as larvas de primeiro instar a encontrarem um hospedeiro. O hábito gregário destas cigarrinhas parece ser fundamental para estes tripes completarem seu ciclo de vida. Tal hábito permite que haja sempre hospedeiros disponíveis durante o processo de ecdise dos hemípteros, quando o tripes precisa abandonar seu hospedeiro e encontrar um novo indivíduo na mesma agregação. As três espécies de Aulacothrips apresentam diferenças marcantes nas áreas sensoriais dos antenômeros III¿IV. Em Au. amazonicus estas áreas sensoriais são significativamente reduzidas enquanto que em Au. dictyotus estas são extremamente desevolvidas. É provável que a diferença existente no tamanho destes órgãos entre as espécies esteja intimamente relacionada ao grau de especificidade parasitária e caracteríticas do ambiente em que vivem. Observações da morfologia interna dos tripes e das cigarrinhas confirmaram o hábito ectoparasita de Aulacothrips. Estes parasitas foram observados sugando a hemolinfa das cigarrinhas, próximo aos corpos gordurosos. Avaliou-se o efeito da presença de Au. dictyotus no comportamento de Ae. reticulatum através da comparação de repertórios comportamentais de indivíduos infestados versus não infestados. Os resultados indicaram que Au. dictyotus modifica o comportamento das cigarrinhas. Os indivíduos infectados apresentaram um grande número de atos comportamentais relacionados à limpeza corporal e executam estas atividades em frequências mais altas quando comparados às cigarrinhas sem tripes. O número de registros ligados à alimentação foi menor em cigarrinhas infestadas, e o número de registros de locomoção e dispersão para longe da agregação de origem foi maior. Os dados apresentados aqui constituem os primeiros passos para reconstruir o cenário evolutivo envolvido neste fascinante sistema multitrófico no qual Aulacothrips está presente.

ASSUNTO(S)

insetos ectoparasitos aulacothrips auchenorryncha : comportamento animal

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