Fatores de risco para incapacidade física anotados no momento do diagnóstico de 19.283 casos novos de hanseníase, no período de 2000 a 2005, em Minas Gerais, Brasil.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Há na literatura estudos que identificam os fatores associados à presença de incapacidade física nos casos novos de hanseníase. No entanto, são poucos os que analisaram o peso e o significado prognóstico dessa associação. Avaliamos, no presente trabalho, os fatores de risco para a incapacidade física e o peso de cada indicador no momento do diagnóstico. Analisamos ainda a proporção anual de casos com deformidades físicas entre os casos novos e o número de casos que deixou de ser diagnosticado no período estudado (prevalência oculta). Trata-se de estudo retrospectivo, descritivo e exploratório de dados de 19.283 pacientes, contidos na ficha de notificação/investigação do Sistema Nacional de Informações de Agravo de Notificação (SINAN) dos casos novos de hanseníase no período de 2000 a 2005, em Minas Gerais, Brasil. As informações de interesse, contendo dados demográficos, epidemiológicos, clínicos e terapêuticos de cada paciente foram armazenadas em banco de dados do programa EPI-INFO, elaborado para o presente estudo. Os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos e foram analisados utilizando-se o pacote estatístico SPSS. Todas as variáveis estudadas (sóciodemográficas e clínicas) apresentaram associação estatisticamente significativa com a presença de incapacidade no momento do diagnóstico. O risco de incapacidade grau II foi 16,5 vezes maior quando se identificou a forma clínica virchowiana e 12,8 vezes maior com a forma dimorfa no momento do diagnóstico quando comparado com a forma indeterminada. A presença de mais de um nervo acometido aumentou a chance de apresentar grau II em 8,4 vezes quando comparado com a presença de até um nervo acometido, e o caso novo com 15 anos ou mais de idade, em 7 vezes, quando comparado com os casos novos com até 15 anos de idade. Os multibacilares apresentaram 5,7 vezes mais chances de deformidades que os paucibacilares e o indivíduo sem escolaridade teve 5,6 vezes mais chances que o caso novo com 12 anos ou mais anos de estudos. A forma tuberculóide no momento do diagnóstico aumentou o risco de desenvolver grau II em 4,5 vezes quando comparado com a forma indeterminada, o modo de detecção através do exame de coletividade aumentou em 1,98 vezes quando comparado ao exame de contato, o sexo masculino em 1,83 vezes quando comparado com o sexo feminino e a baciloscopia positiva em 1,7 vezes mais chance de ter grau II quando comparado com a baciloscopia negativa. A presença de mais de 5 lesões cutâneas aumentou a chance de apresentar deformidades em 1,6 vezes quando comparada com a presença de até 5 lesões. A média da proporção de casos diagnosticados com grau de incapacidade II foi alta (10,1%) e a estimativa da prevalência oculta mostrou que 6.407 casos (24,9%) deixaram de ser diagnosticados no período estudado. Concluímos que os fatores de risco mais importantes para a incapacidade física no momento do diagnóstico foram, em ordem decrescente: forma clínica virchowiana, forma dimorfa, a presença de mais de um nervo acometido, idade maior ou igual a 15 anos, paciente multibacilar, nenhuma escolaridade e a forma clínica tuberculóide, os quais devem ser considerados como sinais prognósticos para instalação e evolução da incapacidade desde o momento do diagnóstico. Os dados mostraram que houve pouca tendência de melhora nos marcadores de incapacidade física da doença no estado de Minas Gerais, no período de 2000 a 2005. Medidas de controles mais intensivas devem ser realizadas para diminuir o risco de incapacidade física, ainda em patamares altos.

ASSUNTO(S)

hanseníase decs pessoas portadoras de deficiência decs epidemiologia descritiva decs estudos transversais decs estudos retrospectivos decs fatores de risco decs

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