Escrita e autoria: vozes que constituem e atravessam o discurso do sujeito-professor / Writing and authorship: voices that constitute and traverse the discourse of teacher subject.

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

16/12/2010

RESUMO

Pretendemos investigar, filiados à Análise de Discurso de linha francesa, a assunção (ou não) à autoria pelo sujeito - professor no contexto escolar, por meio de textos escritos. Pela Análise de Discurso, entendemos que o sujeito, considerado como posição discursiva, pode ocupar a posição - autor dependendo das condições de produção nas quais formula seus dizeres, costurando o intradiscurso (o fio discursivo) no interdiscurso (relação com outros discursos, o já-dito), historicizando, assim, o que diz. Utilizamos, para compreender o movimento do sujeito em relação à autoria no texto escrito, recortes de um corpus formado por 15 textos dissertativo-argumentativos produzidos por 03 sujeitos - professores que atuam no Ensino Fundamental na cidade de Ribeirão Preto. Para a produção desses textos, os sujeitos foram convidados à leitura de textos fílmicos, literário, científico que foram discutidos em 05 encontros, com o objetivo de fazer circular uma multiplicidade de sentidos sobre educação, tema central das produções dos sujeitos. Para compreendermos, então, o funcionamento do discurso dos sujeitos professores no contexto escolar, retomamos a tipologia discursiva de Orlandi (2006a), observando que o discurso pedagógico tende a ser autoritário, isto é, um discurso no qual o sentido aparece como único, não havendo espaço para que os interlocutores possam discutir (ou disputar) os vários sentidos possíveis a partir de suas interpretações/leituras sobre um texto ou qualquer outro objeto simbólico/discursivo, o que implica na forma como o sujeito exerce seu gesto interpretativo. Entendemos que para ocupar a posição de autor, é preciso trabalhar com a polissemia, com o discurso polêmico, criando condições para que o sujeito possa mobilizar, interpretar, colocar em jogo, os vários sentidos possíveis que as leituras dos diversos textos que circulam na escola podem trazer. Para falarmos de sujeito e autoria, retomamos ainda noções caras à Análise de Discurso, tais como formações ideológicas, formações discursivas e imaginárias, memória discursiva, arquivo, os quais conformam o lugar e as possibilidades de enunciar do sujeito. O autor, nessa perspectiva, deve ser responsável pelo que diz e se colocar na origem ilusória de seu texto, produzindo um efeito de coerência e de continuidade entre seu texto e ele próprio (ORLANDI, 2004; FOUCAULT, 2009a, 2009b). Nossas análises mostram que ao tecer um texto dissertativo-argumentativo, o sujeito-professor tende à reprodução dos sentidos, à paráfrase, o que acreditamos se dar devido a forma como o arquivo, seja como campo de documentos (PÊCHEUX, 1997b) ou como campo enunciativo que sustenta a possibilidade de dizer (FOUCAULT, 2009c) é tratado nas atividades escolares, desde as séries iniciais, tendendo à restrição, por meio da leitura, ao sentido permitido, que deve ser reproduzido nas atividades de linguagem ao longo dos anos escolares, o que interdita o acesso do sujeito, seja na posição de aluno ou de professor, à assumir a autoria. Vemos como possibilidade de criar condições para a assunção à autoria no contexto escolar, o trabalho com a polissemia, com o discurso polêmico, instaurando, assim, a possibilidade de o sujeito questionar os sentidos dados como legítimos por efeito da ideologia e tecer novos sentidos, inscrevendo-os no interdiscurso, historicizando-os.

ASSUNTO(S)

authorship autoria discourses discurso escrita subject sujeito writing

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