Entre rupturas e continuidades : um estudo sobre o processo de re-significação do emprego bancário em um banco público federal

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O presente estudo tem como objeto as percepções e significados atribuídos ao emprego bancário público por trabalhadores de um banco federal. Tendo a década de 1990 sido um período de intensas transformações, marcado por fusões, aquisições e privatizações de bancos públicos; intensificação do trabalho por meio da expressiva extinção de postos formais, precarização das relações de trabalho, terceirizações e deterioração do padrão de assalariamento; e ao mesmo tempo de recuperação dos lucros ao final do período, esta pesquisa teve como objetivo investigar e analisar como os trabalhadores do banco estudado percebem o trabalho bancário após as mudanças decorrentes do processo de reestruturação da década de 1990. O primeiro movimento da investigação foi analisar o impacto desse processo para o setor e para os trabalhadores. Num segundo momento, via análise de documentos disponíveis no Centro de Documentação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, buscamos caracterizar os principais fatos e mudanças ocorridos no banco pesquisado durante a década de 1990 e início dos anos 2000. Por fim, realizamos entrevistas semiestruturadas com dois grupos de trabalhadores: o primeiro formado por dez Escriturários, empregados contratados até 1989 que vivenciaram a reestruturação do setor; e o segundo por dez Técnicos Bancários, representantes da nova geração de bancários, cuja contratação se deu após o concurso de 1998. Partimos da hipótese de que as transformações ocorridas no setor na década de 1990 afetaram negativamente o modo como o emprego bancário público é percebido pelos bancários, impactando nos modos de ser e agir do trabalhador. Como segunda hipótese, acreditamos que tal re-significação só pode ser compreendida à luz de um processo de significativas mudanças ideológico-institucionais inerentes ao capitalismo flexível. Assim, constatamos que para a nova geração de bancários a percepção oriunda de uma comparação sincrônica, na qual o emprego aparece como uma alternativa diante de experiências de trabalho temporário, instável ou flexível, parece amoldar a percepção advinda de uma análise diacrônica, que evidencia as perdas históricas do emprego bancário. O crescimento do individualismo, a bradescalização das relações, a criação de castas, a sedução hierárquica em um contexto de limitadas possibilidades de ascensão profissional e de deterioração da remuneração salarial de base, e a diminuição do envolvimento sindical foram elementos explorados pela análise, a qual revelou que, frente ao que permaneceu e ao que se alterou, a questão da estabilidade figura para ambos os grupos de trabalhadores como elemento central na percepção e significado atribuído ao trabalho. A re-significação do emprego bancário público se caracteriza, assim, como um processo que envolve rupturas e continuidades. As rupturas se revelam na medida em que o significado do trabalho já não mais se sustenta no tripé estabilidade-status-salário e pela atenuação do sentido de pertencimento a uma categoria. As continuidades se expressam na medida em que a estabilidade associada ao emprego mantém e amplia sua importância frente à atual configuração do mundo do trabalho, bem como pela reedição e intensificação de uma tendência já presente no pré-reestruturação representada pela ideia de provisoriedade do emprego bancário.

ASSUNTO(S)

significado do trabalho serviço público - trabalho bancário bancários bancos sociologia bank restructuring perception of public bank employment bank sector

Documentos Relacionados