Dieta cetogênica utilizando jejum fracionado : emprego ambulatorial em epilepsia refratária

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Introdução Estudos experimentais clássicos têm sido realizados desde o início do século passado, utilizando métodos alternativos para tratamento das epilepsias. Entre eles, o emprego de uma dieta, denominada dieta cetogênica, que mimetizando os efeitos de um jejum prolongado, provoca a produção de corpos cetônicos, que seriam responsáveis por inibir a hiperexcitabilidade neuronal. Baseado nestes conceitos metabólicos e bioquímicos, foi aplicado tratamento utilizando dieta cetogênica em pacientes portadores de epilepsia refratária a tratamento medicamentoso, em nível ambulatorial e utilizando jejum fracionado. Objetivos Avaliar a eficácia da dieta cetogênica no controle de crises em pacientes jovens (crianças e adolescentes) com epilepsia refratária, assim como relacionar a resposta terapêutica com a dosagem urinária de corpos cetônicos e do beta-hidroxibutirato plasmático, avaliar a ocorrência de alguns possíveis efeitos colaterais, e avaliar a tolerabilidade e adesão dos pacientes ao tratamento, durante o emprego da dieta cetogênica. Métodos A presente pesquisa foi aplicada em caráter prospectivo, por uma equipe formada por médicos neurologistas, nutricionistas, bioquímicas e profissionais de enfermagem, junto ao Ambulatório de Epilepsia do HSL da PUCRS. Participaram da pesquisa 10 pacientes portadores de epilepsia refratária a tratamento medicamentoso, em uso de politerapia medicamentosa, que após seleção, avaliação inicial e concordância com o tratamento proposto, passaram a ser acompanhados pela equipe, através de retornos mensais, por um período proposto inicialmente para seis meses de aplicação da dieta. Neste seguimento periódico eram realizadas reavaliações clínicas e nutricionais, se necessários reajustes na dieta, reorientação medicamentosa, instituição de tratamentos paralelos, assim como a colheita de material para as avaliações bioquímicas realizadas no Laboratório de Patologia Clínica do HSL da PUCRS. Resultados No presente estudo, avaliando a resposta global do efeito da dieta cetogênica sobre a freqüência das crises epilépticas, houve significância nos resultados obtidos, visto que a eficácia do tratamento foi confirmada quando 50% dos pesquisados tiveram de 50% a 100% de diminuição do número de crises, em relação a período anterior ao tratamento. Entretanto, se analisarmos o percentual de alteração, por paciente, do número de crises entre o mês anterior ao tratamento e o mês de melhor resposta, encontramos um resultado sem significância estatística (p=0,289), possivelmente causado pela falta de adesão ao tratamento e as variações para número elevado de crises muito acentuadas em alguns pacientes. Entretanto, considerando-se isoladamente os sete pacientes que responderam com redução de crises, houve significância de resultado (p menor que 0,05). Houve respostas estatísticas significantes, ao relacionarmos a média diária de crises com a medida de cetonúria do dia correspondente (p=0,002); e na proporção de crises nos meses correspondentes às dosagens do beta-hidroxibutirato plasmático quando iguais ou superiores a 1mmol/l em relação às dosagens inferiores a este valor (p=0,004). Quanto à avaliação dos possíveis efeitos colaterais do emprego da dieta cetogênica considerados neste estudo, constatou-se que dos pacientes que realizaram mais de uma coleta sanguínea: 37,5% dos pacientes desenvolveram hipoglicemia assintomática, 50% desenvolveram aumento do colesterol total, nenhum paciente apresentou hipocalcemia e, 83,3% tiveram perda de 0,9% a 11,4% do peso inicial. Quanto às conclusões relacionadas à tolerabilidade e adesão ao tratamento pela dieta cetogênica, neste estudo tivemos os seguintes dados quantos às desistências e razões delas: 55,5% delas ocorreram pelas restrições ou limites impostos pela dieta, incluindo as dificuldades no controle alimentar pelos responsáveis e a rejeição à dieta (especialmente pela não palatabilidade), e 44,5% ocorreram pela preocupação dos responsáveis com intercorrências ocorridas, especialmente processos infecciosos (mesmo que não decorrentes da dieta) e perda de peso. Conclusão O tratamento das epilepsias refratárias a medicamentos proposto neste estudo, através do emprego ambulatorial da dieta cetogênica sob jejum fracionado, mostrou-se eficaz em relação à resposta global apresentada relativa à diminuição de freqüência das crises. Tanto a dosagem da cetonúria diária, quanto a dosagem mensal do betahidroxibutirato, são procedimentos válidos para avaliação dos níveis de cetose necessários para a boa resposta terapêutica à dieta cetogênica, sendo que o beta-HB é o melhor padrão laboratorial indicador do controle de crises. O conhecimento da freqüência dos efeitos indesejáveis relacionados à dieta cetogênica deve servir para a tomada de medidas preventivas, ou mesmo imediatas, na tentativa de reduzir repercussões sobre o sucesso do tratamento. Tanto em relação ao exposto na última consideração, quanto à necessidade de se optar por um tratamento alternativo para as epilepsias refratárias, os cuidados com as considerações responsáveis pela intolerabilidade e falta de adesão à dieta devem ser respeitados, visando boa resposta ao tratamento pela dieta cetogênica.

ASSUNTO(S)

medicina neurociÊncia epilepsia dieta corpos cetÔnicos dietoterapia

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