Das ortopedias (cali)gráficas : um estudo sobre modos de disiciplinamento e normalização da escrita

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta pesquisa procura investigar as regras que dão contornos à caligrafia que chega às escolas brasileiras hoje por meio de livros didáticos. Para analisar essas regras, foi necessário um olhar genealógico, buscando conexões com as condições de possibilidade que permitiram a enunciação, a circulação e o caráter de verdade dos discursos que hoje constituem a caligrafia que ganha visibilidade na arquitetura montada nos livros didáticos; uma arquitetura que, como discutirei, opera para fabricar escritas legíveis e ágeis, agora não mais necessariamente belas, como por muito tempo a escola brasileira primou. O estudo analisa quatro coleções de livros de caligrafia, de grande vendagem no Brasil, recomendados para uso nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Totalizando dezenove volumes, as quatro coleções escolhidas para análise são: da editora Ática, Assim se aprende caligrafia; da editora Scipione, Marcha criança e Ziguezague; e da editora FTD, No capricho. Como referencial teórico, utilizo contribuições dos estudos de Michel Foucault e de outros autores pós-estruturalistas, no que se refere a possibilitar a análise dos discursos e a examinar os mecanismos que operam a normalização das escritas infantis por meio da caligrafia escolar. Conceitos como discurso, enunciado, saber, poder, normalização, estratégia e tática foram especialmente úteis ao trabalho. A pesquisa destacou três grandes táticas em movimento nos materiais analisados: 1) o funcionamento maciço de regras fornecidas pela psicomotricidade para conduzir a organização dos exercícios caligráficos; 2) a disposição em séries de complexidade crescente dos exercícios, partindo de unidades menores, como a letra, até a solicitação regular de cópias de textos em fonte cursiva; e 3) o jogo discursivo que envolve brincadeira, infância e caligrafia com vistas a interessar as crianças ao trabalho estético sobre suas escritas. Olhar para as táticas significou examinar como o poder se exerce sobre os sujeitos infantis em relação à produção de padrões estéticos de escrita. E o que fiz foi colocar em evidência determinadas operações que pretendem fazer com que a criança governe seus próprios traçados na escrita, por meio da aparelhagem fornecida pelos livros de caligrafia.

ASSUNTO(S)

escrita foucault, michel, 1926-1984 handwriting writing normalização livro didático normalization discipline textbooks foucault, michel

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