Conhecimento, natureza e sociedade no campo ambiental de Minas Gerais: um estudo com ambientalistas e técnicos de órgãos estatais de meio ambiente

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

29/02/2012

RESUMO

Esta dissertação consiste em um estudo sobre o campo ambiental de Minas Gerais e as representações de natureza incorporadas na prática de sujeitos que o compõem. O objetivo foi analisar como esses sujeitos tratam o conhecimento, buscando compreender a maneira como eles produzem e articulam significados do ambiental e identificar onde tensões no âmbito do conhecimento podem, potencialmente, gerar conflitos sobre as condições naturais. Para tal, foram resgatadas e analisadas entrevistas mistas (histórias de vida e entrevistas temáticas) realizadas por outros pesquisadores entre os anos de 2002 e 2005 com ambientalistas mineiros, atuantes na academia, em órgãos ambientais estatais ou em organizações não governamentais ambientalistas. Outro objetivo foi compreender a cultura organizacional e as representações de natureza que mais se destacam na atuação de profissionais de órgãos componentes do Sistema Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais (SISEMA/MG) e como essa atuação se insere num contexto mais amplo de conflitos sobre o mundo natural. Para isso, foram realizadas e analisadas, em 2011, entrevistas em profundidade com analistas ambientais de áreas variadas, funcionários efetivos desses órgãos. Foram identificadas e discutidas três correntes de ambientalismo que se encontram em disputa por uma representação legítima de natureza em Minas. A corrente ortodoxa, e atualmente hegemônica, do desenvolvimento sustentável, baseada no paradigma da modernização ecológica, prescreve uma conciliação entre interesses de desenvolvimento econômico e de proteção da natureza, com uma prática de negociação e diálogo e de busca de consensos e uma supervalorização do conhecimento técnico-científico em detrimento de outras formas de conhecimentos e saberes. Outra corrente, também inserida no mesmo paradigma, é a de defesa da vida silvestre, que, da mesma forma que a ortodoxa, contribui para certa despolitização do debate ambiental, tendendo a identificar o meio ambiente com uma dimensão estritamente natural e a natureza como realidade externa e separada da dimensão social. A terceira corrente, contra-hegemônica e heterodoxa, é a dos movimentos por justiça ambiental, que problematiza a ideologia do desenvolvimento sustentável, reconhecendo a existência de formas diversas de conhecimentos, significação e interação com as condições naturais, assim como tensões e processos de hierarquização e exclusão entre sujeitos. Conclui-se também que, recentemente, foi reforçada nos órgãos do SISEMA/MG uma cultura ou visão naturalizadora, que, identificando o ambiental com a dimensão exclusivamente físico-biótica, invisibiliza ou nega a dimensão humana e social dos processos de ocupação do espaço. Em procedimentos de licenciamento ambiental, essa cultura afasta a política ambiental de uma reflexão sobre a viabilidade socioambiental de empreendimentos de desenvolvimento e de uma consideração dos projetos alternativos de sociedade. Constatou-se, também, que reformas recentes na estrutura do SISEMA, como a sua descentralização, acentuaram a incorporação de uma lógica de mitigação e compensação e dos pressupostos da modernização ecológica na prática de seus órgãos, reforçando a exclusão de formas alternativas de vida social pela imposição de projetos de desenvolvimento econômico capitalista, tidos como inevitáveis.

ASSUNTO(S)

sociologia teses. ambientalismo teses. justiça ambiental teses. representações sociais teses. minas gerais meio ambiente teses.

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