Cidadania médica, culturas e poder nos cuidados perinatais e pediátricos de imigrantes

AUTOR(ES)
FONTE

Saúde e Sociedade

DATA DE PUBLICAÇÃO

2012-03

RESUMO

Através de uma descrição detalhada das consultas médicas de mães Cabo-Verdianas, estudantes em Portugal, observadas ao longo de dois anos de trabalho de campo, este artigo pretende elucidar as relações de poder inerentes na institucionalização da biomedicina em que as diferenças culturais são ignoradas, mal-entendidas e criticadas, oferecendo uma análise crítica sobre o princípio de tratamento igual para todos. A observação das consultas médicas faz parte de uma abordagem metodológica mais abrangente de acompanhar mães nas suas consultas com assistentes sociais e oficiais da imigração e de realizar entrevistas semi-estruturadas com as mulheres sobre as suas experiências de maternidade. A etnografia revela não só as limitações de uma política de um universalismo cego que nega as diferenças em nome do humanismo e dos direitos universais como revela a necessidade de se fazer uma distinção conceptual entre "literacia no domínio da saúde" (LDS) e "literacia dos sistemas de saúde" (LSS). Ao demonstrar como a biomedicina não pode ser separada do contexto cultural no qual é praticada, o artigo argumenta que o objectivo de promover a LSS de imigrantes, conhecedores de outras abordagens e sistemas de saúde, devia ser considerado como uma estratégia mais ampla de promoção de competência intercultural que visa ajudar tanto os médicos como os pacientes. Evitar utilizar o termo LDS que implicitamente rotula imigrantes como "analfabetos", é uma forma de valorizar as suas culturas, práticas e interesses alternativas em matéria de saúde e de ajudar a dissolver a hierarquia dos saberes entre médicos e pacientes imigrantes.

ASSUNTO(S)

imigrantes promoção da saúde serviços de saúde reprodutiva

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