Biologia de nidificação, sazonalidade e inimigos naturais de Epicharis (Epicharoides) picta (Smith, 1874) (Apidae: Centridini) no município de Viçosa, MG Brasil / Nesting biology, seasonality and natural enemies of Epicharis (Epicharoides) picta (Smith, 1874) (Apidae: Centridini) in Viçosa, MG Brazil

Hugo de Azevedo Werneck

As abelhas constituem o principal grupo de polinizadores na maioria dos ecossistemas terrestres. Acredita-se que e existam mais de 20.000 espécies de abelhas no mundo. Dessas, cerca de 80% são solitárias, 15 % possuem hábito parasítico e cerca de 5% são sociais. Um grupo interessante de abelhas solitárias é o conhecido como abelhas coletoras de óleo, cujas fêmeas utilizam óleo floral principalmente no aprovisionamento das células de cria. Tal óleo é produzido por glândulas especializadas (elaióforos), presentes em poucas famílias botânicas, das quais, na Região Neotropical, a principal é Malpighiaceae. Os principais grupos de abelhas coletoras de óleo da Região Neotropical são as Centridini, Tetrapediini e Tapinotaspidini. A tribo Centridini é composta pelos gêneros Centris e Epicharis. Todas as espécies de Epicharis nidificam no solo, principalmente nos de característica arenosa. O presente estudo teve como objetivo estudar os aspectos da biologia de Epicharis (Epicharoides) picta. Observações sobre o comportamento de nidificação das fêmeas e comportamento dos machos foram realizadas em 2010 e 2011. Para avaliar a taxa de parasitismo, relação com inimigos naturais, razão sexual e sazonalidade de E. picta, foram montadas 10 armadilhas de emergência no agregado dessa espécie, localizado em Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Foram retiradas amostras de pólen das escopas das fêmeas, das provisões e das fezes larvais com o intuito de determinar a fonte polínica utilizada por essa espécie. Imaturos de E. picta e de seu parasita Tetraonyx sp. (Coleoptera: Meloidae), foram coletados e mantidos em laboratório para descrever seu desenvolvimento. Adultos de E. picta estiveram ativos entre meados de Janeiro e Maio, sendo uma espécie protândrica. Os ninhos foram construídos em uma densa agregação, com cerca de 40 ninhos/m2, podendo alcançar cerca de 110cm de profundidade, com uma ou duas células no interior. Os machos não possuem comportamento territorialista, são atraídos tanto por fêmeas recém-emergidas como por fêmeas em atividade de nidificação, no entanto, só foram observadas cópulas com fêmeas recém-emergidas. Rhathymus friesei foi o inimigo natural mais abundante, embora Tetraonyx sexguttata, T. aff. lycoides e Physocephala sp. também tenham sido registrados. Onze espécies de vespas da família Mutillidae foram coletadas na área de nidificação, porém, não foi possível confirmar o parasitismo dessas espécies sobre E. picta. Uma espécie de Heteroptera, Apiomerus lanipes, foi observada predando indivíduos de E. picta. O tipo polínico dominante foi Banisteriopsis/Heteropterys, com mais de 98% de frequência. O desenvolvimento, da fase de ovo até a emergência do adulto, dura cerca de 360 dias, o que confirma o ciclo de vida univoltino. O primeiro registro de hospedeiro de R. friesei e uma compilação dos hospedeiros registrados para o gênero Rhathymus é apresentado. A partir dos dados obtidos foi possível caracterizar a bionomia de E. picta, verificar quais são seus inimigos naturais e o principal tipo polínico utilizado no aprovisionamento das células de cria.

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