Avaliação da marcha durante a realização de atividades simultâneas em pacientes com Doença de Parkinson

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

01/03/2012

RESUMO

INTRODUÇÃO: As alterações da marcha são características da Doença de Parkinson (DP) e um dos aspectos mais incapacitantes desta patologia. Para contornar os déficits dos gânglios da base, responsáveis pelos componentes automáticos da marcha, os pacientes com DP recrutam recursos atencionais na tentativa de gerar uma marcha mais próxima da normal, entretanto, alterações de atenção também fazem parte do quadro clínico desta doença. Desta forma, pacientes com DP podem apresentar dificuldade na realização simultânea de diferentes atividades, como caminhar e conversar, apresentando um risco aumentado de quedas quando tentam realizá-las, com um profundo impacto negativo na qualidade de vida e no bem estar do paciente. OBJETIVO: Investigar os efeitos de atividades simultâneas (caminhada com atividades cognitivas) sobre os parâmetros da marcha em pacientes com Doença de Parkinson. METODOLOGIA: Participaram deste estudo 18 pessoas saudáveis e 18 pacientes com DP acima de 50 anos na fase on da medicação antiparkinsoniana, com tempo de doença entre 3 e 15 anos e início dos sintomas parkinsonianos acima dos 40 anos. Os pacientes incluídos preencheram os critérios diagnósticos da Doença de Parkinson idiopático provável com base na avaliação clínica e resposta a levodopa e agonistas da dopamina. Foram excluídos pacientes com: uso de medicações psicotrópica, exceto antidepressivos; distúrbio psiquiátrico ou neurológico outro que não DP; neurocirurgia prévia; déficits sensoriais e/ou motores incompatíveis com as atividades propostas; pontuação no Teste de Miniexame do Estado Mental (MEEM) indicativo de demência; pontuação no Inventário de Depressão de Beck (BDI) compatível com depressão e pontuação na escala de Hoehn and Yahr maior que 2,5. Os critérios de exclusão para o grupo de padronização da intervenção foram os mesmos que para os pacientes com DP, exceto em relação a distúrbios psiquiátricos, neurológicos e de marcha, que estavam ausentes. Para avaliar função executiva, flexibilidade mental e atenção foi utilizado o Teste de Cartas de Wisconsin (64 cartas, versão computadorizada) e o Teste de Stroop. As manifestações motoras dos pacientes com DP foram avaliadas pela Escala Unificada de Avaliação para Doença de Parkinson (UPDRS) parte III. A avaliação da marcha foi realizada em um corredor com as seguintes tarefas: marcha usual, marcha ouvindo texto, marcha contando fonema e marcha com cálculos aritméticos. Para a realização da coleta de dados, utilizamos a cinemetria com uma câmera posicionada lateralmente ao indivíduo. Foi avaliado um ciclo de passada por uma análise bidimensional (2D) a partir da digitalização das imagens no software Dvideow (6.3) e para o processamento dos dados utilizou-se uma rotina criada no programa Labview (8.5). Os parâmetros analisados foram: o tempo de contato médio, comprimento da passada, freqüência da passada, tempo de balanço, velocidade, tempo de duplo apoio e tempo de apoio relativo. As características demográficas, clínicas e neuropsicológicas dos pacientes foram analisadas através do Teste T e pelo qui-quadrado. Para comparar os parâmetros da marcha entre pacientes com Doença de Parkinson e Controles foi utilizado o Teste T para amostras independentes. Análise de variância (ANOVA), que incluiu uma variável entre participantes (grupo: pessoas saudáveis e pacientes com DP) e uma variável intra-participantes (diferentes condições de caminhada) foi utilizada para analisar os parâmetros da marcha. Diferenças entre os grupos foram verificadas com Testes T para amostras independentes e comparações múltiplas das diferenças entre médias do grupo foram verificadas com Teste T para amostras dependentes (ajustes de intervalo de confiança com as correções de Bonferroni).Os dados foram expressos como média erro padrão e os valores de p<0,05 foram utilizados como indicativo de significância estatística. RESULTADOS: Os pacientes com DP completaram menos categorias, tiveram mais erros e menos acertos no Teste de Cartas de Wisconsin. No Teste de Stroop, apesar de não haver diferença significativa entre os grupos no Stroop palavras e no Stroop cores, o grupo com DP apresentou um desempenho significativamente pior do que o grupo de controles no Stroop palavras-cores, demonstrando uma menor atenção e menor flexibilidade mental nos pacientes com DP. Os pacientes com DP mostraram maior tempo de contato relativo e menor comprimento da passada e velocidade da marcha do que indivíduos controle em todas as situações de marcha. A marcha com cálculo alterou significativamente os parâmetros dos indivíduos controles saudáveis (aumento do tempo de contato médio e relativo, tempo de balanço médio e de duplo apoio e diminuição da velocidade, comprimento da passada e frequencia) e dos pacientes com DP (aumento do tempo de contato médio, tempo de contato relativo e de duplo apoio e diminuição da frequencia, velocidade e comprimento da passada). CONCLUSÃO: Os pacientes com Doença de Parkinson já partiram de uma marcha usual com maior estratégia de estabilidade, enquanto os controles buscaram esta estratégia para estabilidade quando associaram marcha à tarefa cognitiva. De uma forma geral os resultados indicam que, apesar dos pacientes apresentarem alterações da marcha compatíveis com sua patolologia, o padrão de ajustes da mesma durante atividades simultâneas é semelhante àquele de indivíduos saudáveis sugerindo que os pacientes com Doença de Parkinson (em fases iniciais da doença e no período on da medicação) apresentaram respostas adaptativas para evitar quedas e lesões.

ASSUNTO(S)

medicina doenÇa de parkinson doenÇas do sistema nervoso atividades cotidianas medicina transtornos motores

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