As consoantes plosivas do PB: um estudo acústico e perceptivo sobre dados de fala de sujeitos com deficiência auditiva

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

13/11/2012

RESUMO

O vínculo entre a produção e a percepção de fala é ainda pouco investigado nos estudos sobre deficiência auditiva no Brasil. Dentre os trabalhos de pesquisa existentes, os realizados no Laboratório Integrado de Análise Acústica e Cognição (LIAAC) da PUCSP enfocaram sons vocálicos e consonantais do Português Brasileiro (PB), com base nos pressupostos teóricos da Teoria Acústica de Produção de Fala e da Fonologia Articulatória. O presente estudo segue essa mesma orientação e tem como objetivos investigar a produção das consoantes plosivas do PB por dois sujeitos portadores de deficiência auditiva (DA) de graus moderado e profundo (S2 e S3, respectivamente), confrontando-as com as de um sujeito sem alteração de fala (S1), e pesquisar os efeitos dessas produções em ouvintes. Para concretizar esses objetivos foram empregados métodos de análise fonético-acústica, testes de avaliação perceptiva e técnicas de manipulação do sinal acústico da fala. O corpus foi composto por seis palavras dissílabas paroxítonas, em que a consoante tônica era representada por uma das plosivas do PB: [p], [b], [t]. [d], [k] e [g], originando as palavras pata, bata, tata, data, cata e gata, inseridas na frase-veículo diga palavra-chave baixinho. Utilizou-se o software Praat para se analisar dois parâmetros acústicos: duração e frequencia. Foram medidas as durações em ms de: (1) Sentenças-veículo, palavras-chave, unidades vogal-vogal; (2) Vogais [A1], [a2] e [A3]; (3) Consoantes plosivas em posição tônica [C1] e pós-tônica [t] na palavra-chave; (4) Elementos da consoante plosiva relacionados ao VOT: manutenção da barra de sonoridade (MBS), interrupção da barra de sonoridade (IBS) e plosão. Também, foram extraídas as medidas de (5) frequência fundamental (f0) e de (6) frequência dos primeiro, segundo e terceiro formantes (F1, F2 e F3) no onset das vogais [A1], [a2] e [A3] e de (7) transição de formantes F1, F2 e F3 na vogal [a2]. Para um aprofundamento no estudo do parâmetro de duração, realizou-se nas produções de fala do sujeito S1, quatro tipos de manipulação na consoante em posição tônica [C1]: M1 retirada de metade do intervalo de duração da consoante anterior à plosão, M2- retirada total do intervalo de duração da consoante anterior à plosão, envolvendo, portanto a retirada de [MBS] ou [IBS], M3 retirada total do intervalo anterior ao onset da vogal subsequente à plosiva, e M4- aplicação do comando set selection to zero, eliminando a barra de sonoridade, mas conservando o intervalo de duração do silêncio correspondente ao período de obstrução na produção da consoante plosiva. Para a avaliação perceptiva das produções de fala dos sujeitos com deficiência, S2 e S3, e dos estímulos manipulados (M1, M2, M3 e M4), foram aplicados testes de percepção em um grupo de 30 juízes ouvintes. Os resultados dos testes de percepção foram comparados aos resultados da análise acústica das produções de fala. Para S3, a maioria dos julgamentos foi distinta da produção pretendida/solicitada pelo/ao sujeito. Em relação às produções de S2, constataram-se altos índices de julgamentos corretos sobre o ponto de articulação e vozeamento das consoantes. Observou- xxv se, portanto, que há uma relação entre os parâmetros alterados e a progressão do grau da perda auditiva, em que o sujeito S2 DA moderada apresentou padrão de fala muito semelhante ao do sujeito S1 e distinto de S3. Os resultados dos testes de percepção manipulados mostraram que a identificação da consoante [b] foi afetada por dois tipos de manipulação (M3 e M4), em oposição a não-modificação de [d] e [g] frente às quatro manipulações. Os resultados indicam que as pistas acústicas de duração do pré-vozeamento (duração do VOT negativo) foram relevantes para a percepção das consoantes plosivas bilabiais vozeadas, e que, para as plosivas alveolares e velares vozeadas o intervalo de vozeamento entre a plosão e o onset da vogal subsequente à consoante plosiva foi suficiente para a percepção do vozeamento. De modo geral, verificou-se ainda que as variáveis de duração total da palavra-chave, da duração barra de sonoridade (MBS e IBS) e da plosão foram relevantes para a identificação correta de vozeamento e/ou ponto de articulação. Os resultados obtidos neste estudo trazem evidências sobre relações que se estabelecem entre os domínios da produção e percepção da fala, contribuindo para a construção de conhecimento sobre a fala dos portadores de deficiência auditiva e para a consideração de como o déficit em um dos domínios traz prejuízos para o outro

ASSUNTO(S)

linguistica aplicada fonética produção e percepção de fala deficiência auditiva síntese de fala phonetics production perception hearing impairment

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