A relação entre o estado de saúde e a desigualdade de renda no Brasil.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Um dos principais problemas socioeconômicos observados em grande parte dos países, especialmente nas economias menos desenvolvidas, é a presença da elevada desigualdade de renda e nível de pobreza. Diversos trabalhos empíricos têm procurado analisar os seus principais determinantes bem como o seu efeito sobre alguns indicadores relacionados ao bem estar social, tais como o nível de crescimento econômico, taxa de criminalidade e estado de saúde. No Brasil, essas questões são particularmente importantes uma vez que o país apresenta uma das piores distribuições de renda do mundo, com um coeficiente de gini em torno de 0,607. O objetivo dessa tese é estudar a relação existente entre o estado de saúde e a distribuição de renda no Brasil. Essa relação não é unidirecional. Por um lado, a distribuição de renda e o nível de pobreza podem afetar o nível de saúde, uma vez que sociedades mais desiguais são caracterizadas pela presença de conflitos sociais e menor coesão social - afetando a qualidade das relações individuais. Por outro lado, como a saúde é um dos componentes do capital humano na medida em que afeta diretamente a capacidade de geração dos rendimentos salariais, pode ter impactos sobre a distribuição de renda. Existem basicamente três mecanismos através dos quais a saúde afeta os rendimentos: produtividade do trabalhador, número de horas ofertadas de trabalho e a decisão de participar na força de trabalho. Para analisar o impacto da saúde sobre a distribuição de rendimentos, a metodologia utilizada baseia-se em uma análise contra-factual. A análise consiste em dividir a amostra em indivíduos saudáveis e doentes e estimar as equações de rendimentos dos indivíduos com 10 anos e mais de idade. Os coeficientes obtidos para a amostra saudável são aplicados à amostra de indivíduos doentes para estimar os rendimentos salariais hipotéticos, ou seja, os rendimentos dos indivíduos doentes se estes apresentassem a mesma estrutura de remuneração dos saudáveis. Estimamos duas medidas de desigualdade de renda - coeficiente de gini e o Índice t-theil, e três indicadores de pobreza - Proporção de Pobres, Hiato de Renda e Hiato Quadrático. Esses indicadores hipotéticos são comparados com os indicadores de desigualdade de rendimentos e de pobreza obtidos a partir dos rendimentos salariais observados. Para analisar o impacto da distribuição de renda sobre o estado de saúde individual, a metodologia utilizada neste trabalho é o modelo logit multinível, que tem a vantagem de considerar a natureza hierárquica dos dados. A base de dados utilizada é a PNAD 98, que apresenta um suplemento especial contendo informações sobre o estado de saúde, utilização desses serviços, entre outras. A principal contribuição deste trabalho é detectar o impacto do estado de saúde sobre a distribuição de rendimentos no Brasil e o impacto da distribuição de renda sobre o estado de saúde. O principal mecanismo em que a saúde afeta a distribuição de rendimentos é através do efeito participação, sendo este efeito mais acentuado entre os idosos. Ao mesmo tempo em que o estado de saúde afeta a distribuição de renda, ele também é afetado por esta distribuição. Quanto pior a distribuição de renda pior é o estado de saúde individual. Esses resultados mostram a importância em se desenvolver políticas que visem reduzir a desigualdade social em saúde no Brasil, de forma a diminuir as diferenças sociais entre indivíduos saudáveis e doentes. Desde que a distribuição de renda também afeta o estado de saúde, podemos observar a presença de um ciclo vicioso no país, no qual a desigualdade de renda afeta o estado de saúde. O estado de saúde precário por sua vez acarreta em perdas de rendimentos individuais, que contribuem para aumentar a desigualdade de renda.

ASSUNTO(S)

economia da saúde - brasil - teses. renda - distribuição - brasil - teses.

Documentos Relacionados